sábado, 31 de março de 2007

Primeiro de abril! (volto na terça)

1º DE ABRIL!
Quando eu era mais jovem, o dia 1º de abril era o dia dos tolos. Dia de fazer pegadinhas. Dia da mentira. Era tão forte a história que até o golpe militar de 1964 virou golpe de 31 de março, para que ninguém viesse com brincadeiras de 1º de abril.

Daí, quando fui editor-chefe do jornal O Estado, no tempo em que o mar vinha até aqui e ali pra cima era tudo mato, resolvi macaquear os norte-americanos, que no dia da mentira fazem brincadeiras colocando notícias falsas nas capas de seus jornais.

E preparei uma capa de 1º de abril para o jornal. Falava, se a memória não me trai, da interdição da ponte Hercílio Luz (uma coisa inimaginável, na época, embora sempre temida) e das dificuldades que a turma teria. E tinha outras chamadas, todas falsas. Lá na página dois é que eu explicava que aquela capa era uma brincadeira de primeiro de abril.

Claro que eu estava meio preocupado com a possível repercussão. Afinal, nunca antes neste país um jornal tinha feito uma capa como aquela, totalmente de brincadeira. A cada passo da confecção da capa eu dava uma olhada. E mandava tocar.

Fui pro lado da rotativa, para ver como ficaria impresso. Assim que a tinta foi acertada e sairam os primeiros exemplares, peguei o jornal, olhei e mandei parar a impressão.

Tinha ficado forte demais. O Comelli (dono do jornal), Florianópolis e quiçá Santa Catarina não estavam assim tão americanizados para encarar com naturalidade uma brincadeira daquele tamanho (o jornal, na época, era tamanho standard, daqueles grandões).

Pelo sim, pelo não, o jornal circulou, no dia da mentira, com uma capa de verdade. Fiquei tão chateado com a minha falta de coragem, que nunca mais falei nisso. Acho que nunca contei esta história em público. Talvez tenha comentado em alguma aula, mas em jornal acho que é a primeira vez.

MARADONA E SOBEL

De tudo que vi e li sobre a maluquice do rabino Sobel (preso roubando gravatas em Miami), a coisa mais sensata foi o que escreveu o Juca Kfouri. Ele juntou os dois personagens que tiveram uma vida memorável e, em determinado momento, escorregaram na maionese: Sobel e Maradona.

Entre outras coisas, disse Kfouri: “que se ignore a biografia de um homem pego em erro grave é incompreensível. Para alguma coisa há de valer o passado das pessoas”.

Não se pode apagar os bons e produtivos momentos do Maradona porque agora ele não consegue parar de cheirar. Não se pode esquecer a coragem com que o rabino se portou nas piores horas da história brasileira, porque agora, depressivo e sob a ação de remédios, virou cleptomaníaco.

Diz o Juca: “se a vida pregressa não vale para nada, de que vale a vida?”

CAOS GOVERNAMENTAL

O que tem infernizado a vida daqueles que precisam viajar de avião é o caos em que Anac, Defesa e governo, se encontram. Não tem nada de caos aéreo. É caos ao rés-do-chão mesmo.

Ontem os controladores publicaram um manifesto onde apontam, novamente, as mazelas que só o governo não vê. Fazem denúncias, levantam questões graves. Mas não se ouve, do presidente da República, uma única palavra sensata que possa tranquilizar o contribuinte.

Lula fez apenas uma cobrança retórica, para aparecer no noticiário: “quero que me digam o dia em que isto vai acabar”. E não deu prazo para que os três patetas dêem a resposta pedida. E dá-lhe bate-cabeça, protelações, desvios de rota. E o contribuinte, idiota e desamparado, dorme nos bancos dos aeroportos, mal servido pela Inchaero. Espera horas dentro de aviões cada vez mais alquebrados. E reza para, se conseguir voar, possa chegar vivo ao seu destino.

A BRONCA DO LEITOR
A propósito da dispensa de licitação do Ministério Público estadual, para conserto de ar condicionado, a que nos referimos ontem, um leitor manda uma sugestão para eles: “da próxima vez que ocorrer de não aparecerem candidatos aos pregões, talvez seja melhor contratar a empresa por meio de carta-convite, em vez de dispensa de licitação. Porque aí pelo menos tem três orçamentos”.

QUE MERDA!
Às vezes não dá um cansaço de viver num lugar onde coisas básicas como o esgoto precisam de ordem judicial para serem feitas?

Florianópolis, a Funasa e a Casan foram condenadas pela Justiça Federal a implantar um sistema de esgotos no Canto do Lamin, em Canasvieiras, norte da Ilha de Santa Catarina.

Não tem rio, riacho, córrego, praia e baixio deste nosso estado, que não receba seu quinhão de merda. Cagões de todos os tipos, níveis sociais e títulos despejam solenemente seus detritos no ambiente que nos cerca. E fazem de conta que não sabem o que está acontecendo.

Seus porcalhões engravatados, seus nojentos com doutorado, seus imundos letrados: não adianta nada o dinheiro, os títulos, as viagens, as propinas, o nariz empinado das autoridades. A Santa e Bela Catarina está afundando na merda. Literalmente. E em todos os sentidos.

Precisar de ordem judicial para construir esgoto é sintoma de um câncer intestinal no cérebro de quem teve e tem alguma responsabilidade. Nem adianta apontar o dedo para o adversário. Tem antes que olhar para o teu rabo. E tomar conta para que o que sai dele não vá para os rios e para o mar.

Gente hipócrita e incompetente que fala, fala e não consegue resolver um dos mais antigos, mais graves e mais urgentes problema da humanidade.

E DÁ-LHE CELULAR – O presidente Lula foi ontem a uma solenidade de diplomação de alunos do Pro Jovem de Pernambuco e, como um ídolo popular ou político em campanha, posou para fotos. O número de celulares com câmera é impressionante (nunca é demais lembrar: neste blog, se clicar sobre a foto, abre-se uma ampliação).

sexta-feira, 30 de março de 2007

Sexta

MPF X RBS
Quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o Procurador da República Celso Três (na foto acima), disse que ia estudar o caso pra ver se cabia alguma medida. Ontem conversei com ele, para saber a quantas anda a história.

A coisa continua sendo estudada e já evoluiu. Além do Celso Três, agora tem a participação do Procurador Regional para os Direitos do Cidadão, Marcelo da Motta. E eles estão concentrando seus estudos em três linhas principais:

a) Monopólio da informação;
b) Concentração (o número de emissoras de rádio e TV que a RBS possui excederia os limites legais); e
c) Baixo volume de produção local.

A ação que será proposta, quando os procuradores tiverem concluído a preparação, será uma coisa grande, que levantará muita discussão e naturalmente poderá levar tempo. Eles pretendem que a Justiça imponha à RBS uma redução no número de concessões e a ampliação dos espaços para programação local.

O foco principal não é mais a compra de A Notícia, por uma razão de jurisdição: os jornais não são concessão pública, não há órgão federal envolvido na história. Mas ela entra na discussão do direito que o cidadão tem ao acesso à informação e na condenação ao monopólio. Três acredita que seria interessante que o Ministério Público Estadual também entrasse no caso.

A demora na apresentação da denúncia se justifica principalmente porque nunca, neste país, foi feita alguma coisa parecida. E muita gente acha inimaginável questionar um grupo de comunicação com 18 emissoras de televisão, seis jornais, canais de tv a cabo, portais de internet e inúmeros outros negócios e interesses, centralizados no RS e SC. Encontrar as informações que vão embasar a ação, portanto, está sendo uma tarefa difícil.

A boa notícia, para aqueles que prezam a pluralidade de fontes de informação e o cumprimento da lei, é que o assunto não foi esquecido nem engavetado.

A TV DO LHS
Ontem reproduzi notinha do Prisco, no jornal A Notícia, onde ele informava que está em estudo uma rede de TVs do governo estadual. O governo nega enfaticamente que esteja pensando no caso. O Prisco diz que a informação que ele tem é que a coisa tem sido pensada, sim.

A verdade é que o LHS não precisa gastar dinheiro para montar uma rede de TV estatal. Ele tem a simpatia da maioria dos radiodifusores, que dão ampla repercussão às ações e às propostas do governo.

E se tiver que mexer nessa área, então seria mais justo, simpático e eficaz, criar logo uma rede de TV pública (há uma diferença crucial entre TV pública e TV estatal), que poderia começar com a TV Cultura, que era para ter sido um embrião de rede pública e acabou jogada às traças e se dismilingüe, sem cumprir suas finalidades.

A BRONCA DO LEITOR
Esta coluna tem leitores atentos e exigentes, que não perdoam nada. Ontem um deles mandou uma cartinha dizendo que o Ministério Público não pode cometer os mesmos erros, por exemplo, de alguns setores do governo.

E cita uma dispensa de licitação, publicada em fevereiro pelo Ministério Público Estadual. Segundo ela, foi contratada uma empresa, por R$ 67 mil, para dar manutenção em aparelhos de ar condicionado. Ele pergunta: “por que não fazer licitação? qual o motivo de contratar a empresa dessa forma?”

Fiz a pergunta do leitor ao MP-SC e eles informaram que licitaram aquele serviço duas vezes. Não apareceu nenhum interessado nos dois pregões. E, neste caso, a lei autoriza que se contrate por dispensa de licitação.

Só não consegui saber por que as empresas de manutenção de ar condicionado não quiseram se candidatar e não apareceram no pregão do MP.

ENGOMADINHOS
Logo que foi criada a Guarda Municipal, em Florianópolis, a turma colocou um apelido neles: “os engomadinhos”. Serviu como uma luva e a cada bobagem que eles fazem, ficam com mais cara de “engomadinhos”.

Os guardinhas municipais deveriam cuidar do trânsito. Aí, no começo, foram com muita sede ao pote e multaram até triciclo de criança em parquinho público. Depois desapareceram.

Quando precisa fechar uma rua ou coisa parecida, eles, com seus óculos escuros de grife, estacionam as motos e ficam conversando e rindo no meio da rua fechada, enquanto o trânsito, nas proximidades, vira um caos. E quem tenta chamar a atenção deles ainda leva uma bronca e se duvidar vai preso por desacato.

Nas ruas centrais da capital os pedestres, loucos para atravessar, não respeitam o sinal aberto para os carros e sempre dá confusão. A presença de um guardinha, ali, poderia ser educativa para os pedestres e facilitaria a vida de todo mundo. Mas quem disse que eles topam fazer esse serviço?

Quando tem algum por perto, fica de costas para a sinaleira e para a faixa de pedestres, sempre com seus óculos escuros de grife e sempre em dois ou três, conversando e rindo. Não se sabe do que riem tanto esses engomadinhos. Do salário deles não deve ser, que é baixo. Deve ser de nervoso, pela falta de treinamento e de informação sobre o papel deles na ordem das coisas.

Isto é só uma molecagem.
A SC Cassinos (ainda) não existe (pelo menos não com este nome).


A LUTA CONTINUA – Vocês e eu vamos continuar financiando, com nosso suado dinheirinho, a defesa inglória que o governo do estado promove do jogo de azar. Ontem três procuradores da República, do Ministério Público Federal em Santa Catarina, protocolaram uma representação, pedindo que o Procurador Geral dê um cascudo no LHS. Eles entendem que o decreto do governo estadual liberando de novo a jogatina tem, “como único objetivo, descumprir o STF, burlar a decisão daquele Tribunal”. E pediram uma intervenção federal no estado, para fazer com que a decisão do STF seja cumprida.

Não é o máximo? O governo estadual usa dinheiro público (na forma de salários de advogados, procuradores e todo o pessoal envolvido), para defender os jogos de azar, expondo-se de forma inédita e desafiando a Justiça Federal. Os empresários do jogo, agradecidos e emocionados com tanto empenho, devem estar com os olhos marejados de alegria. E nós, com os olhos marejados de raiva. Ô raça!

quinta-feira, 29 de março de 2007

Quinta

Ontem o Secretário da Fazenda, Sérgio Alves (à esquerda na foto acima), foi explicar, na Assembléia Legislativa, a situação financeira do estado. Pelo jeito, desagradou até a sempre cordata deputada Odete de Jesus, que normalmente não entra em bola dividida nem se mete em questões cabeludas. A deputada “lamentou a falta de conhecimento do secretário sobre o projeto da reforma administrativa”. E, com outros parlamentares, pediu a presença do Ivo Carminatti (faz-tudo e secretário de articulação) e do secretário da Administração para explicar o que o der para explicar, antes que a votação comece.

TÔ NOS ANAIS!
Ontem esta coluna e o DIARINHO foram citados na sessão da Assembléia Legislativa. Da tribuna, o deputado Kennedy Nunes (PP) não só falou (bem!) da gente, como pediu que a coluna fosse introduzida nos anais da Casa. Esta parte eu nem vou comentar, porque é sempre uma coisa delicada colocar uma coluna, do calibre desta aqui, nos anais de um lugar chique como a Alesc.

Não é, contudo, nenhuma comprovação de mérito especial: apenas mostra que o jornal é lido pelos deputados e seus assessores. E que os assuntos tratados ontem agradaram a uma das bancadas da Casa. E nem podia ser diferente, afinal gastei metade da coluna mostrando uma denúncia feita pelo PP, partido do Kennedy.

Em todo caso, merecer registro na ata de alguma sessão legislativa (os tais anais) é sempre honroso e importante. Esta é uma forma de se entrar para a História. Os pesquisadores utilizam os registros das casas legislativas, entre outras fontes, para ir montando seus relatos.

LEGISLAÇÃO VIRTUAL

O comando do Corpo de Bombeiros Militar inventou uma nova forma de administração pública, que demonstra a criatividade do pessoal, quando se trata de criar novos cargos.

O Projeto de Lei que cria a estrutura do Corpo de Bombeiros está parado em alguma gaveta desde 2003. O governo ainda não o enviou para a Assembléia. Isto seria um grande empecilho porque, na prática, enquanto o projeto não virar Lei, o que está previsto ali não pode ser concretizado. Mas aqui, país do jeitinho e das leis virtuais, não faz a menor diferença.

Em janeiro e em fevereiro foram editadas, pelo Corpo de Bombeiros Militar, duas portarias criando diretorias. E, por incrível que pareça, elas dizem explicitamente que, como a Lei que permitiria a criação dos cargos ainda não foi aprovada, criam os cargos assim mesmo.

Só não entendi se as portarias rebeldes são uma demonstração de agilidade ou apenas um desaforo. Uma espécie de canelada no Centro Administrativo, que não encontrou jeito de mandar para a Assembléia o necessário projeto de Lei. E aí os BM, cansados de esperar, passaram o trator.

PARTIDO/RESTAURANTE
Os florianopolitanos mais entrados em anos haverão de lembrar do restaurante Democrata’s, que existia no centro da capital. Se não me engano, o deputado Marcos Vieira (PSDB) chegou a ser um dos donos, na fase final.

Por causa desse restaurante, ainda não consegui me acostumar com o novo nome do PFL. Sempre que ouço ou leio “Democratas” acho que estão falando do restaurante.

Em todo caso, parece adequado, porque se as coisas não forem muito bem nas eleições, sempre dá para vender a franquia do nome para montar uma rede de restaurantes.

E como numa loja ou numa lanchonete tradicional, os antigos proprietários (a velha guarda do PFL) instalaram-se num Conselho, afastados do dia-a-dia, para que a gurizada (os filhos), vá pegando traquejo no balcão (nos cargos da executiva). Mas ficarão de olho.

GRANDE SÍLVIA
Sílvia Pinter, uma das grandes repórteres do jornalismo catarinense deixou as redações e começa, na segunda-feira, como assessora de imprensa da Associação Catarinense do Ministério Público.

Com filho pequeno precisando de atenção materna e ela própria precisando de tempo para curtir a criaturinha, achou melhor deixar o jornalismo por uns tempos para exercer uma função mais tranqüila, com horários um pouco mais regulados e com folgas semanais. Decisão acertadíssima.

O jornalismo, vocês sabem, é uma cachaça, uma coisa que vicia e às vezes a gente até esquece que precisa ter uma vida fora do trabalho, que precisa “dar um tempo” na correria. Cuidar da gente, das pessoas queridas, da saúde mental (o jornalismo deixa a gente meio louco, às vezes) e variar o ritmo.

Fazer assessoria de imprensa é uma forma de não se afastar completamente dos coleguinhas, não deixar de ter contato com o jornalismo e até usar algumas técnicas jornalísticas em várias atividades. Mas sem o estresse de uma redação de jornal diário.

Claro que, daqui a algum tempo, ela volta. Para desespero dos poderosos de plantão, que devem estar se sentindo muito aliviados com a ausência daquela repórter impertinente que sempre conseguia arrancar a informação que estava buscando.

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Deu na coluna do Prisco Paraíso (em A Notícia):
“No embalo da TV Lula, vem aí a TV LHS. O canal de televisão do executivo estadual sai do papel até o final do primeiro semestre de 2008. O projeto prevê, numa primeira etapa, difusão em sinal aberto e repetidoras nas principais cidades do Estado. Profissionais da área já estão sendo contatados. Investimento superior a R$ 20 milhões.”
Já estou até imaginando qual será o programa especial de estréia da nova rede de TV oficial: um documentário mostrando LHS passando sobre a ponte Hercílio Luz, de metrô.

DEVOLUÇÃO DE VOTOS
A interpretação do Supremo Tribunal Federal sobre fidelidade partidária para os cargos proporcionais é daquelas coisas cuja lógica é cristalina.

O voto que elege os deputados é do partido. Se não fosse assim, o Salum teria se elegido. Ele teve mais de 70 mil votos. Só que o partido dele não conseguiu alcançar o número de votos que precisava para dar, ao Salum, uma cadeira na Câmara.

Então, é lógico que cada partido tenha a posse dessas vagas. E sempre que o sujeito quiser apear do partido, perca o direito à vaga. Perfeito.

Temo, contudo, que se consiga dar um jeitinho e a lógica cristalina vire um caco de vidro e seja jogada no lixo.

Enquanto isso não acontece, os partidos que sofreram lipoaspiração começam a se mexer para pedir os mandatos de volta. O PSDB quer a vaga hoje ocupada pelo Djalma Berger, que virou a casaca depois de ter sido eleito pelo PSDB. E o Nelson Goetten também está na mesma situação.

Por via das dúvidas, os suplentes já mandaram os ternos para a tinturaria e foram vistos ontem comprando sapatos novos e lustrosos.

VIEIRÃO, O CONTADOR
O ex-deputado Antônio Carlos Vieira (vieirao.com.br) publicou ontem uma lista de sete polpudas dispensas de licitação do governo LHS e mais umas 22 ações populares impetradas contra o governo LHS pela bancada do PP. Ele diz que as listinhas foram anexadas à representação que o partido apresentou, pedindo que o ex-ministro Dejandir Dalpasquale diga, afinal, os nomes de quem ficou rico no governo.

Os pepistas, que querem se qualificar como uma força importante de oposição, ficam meio mordidos quando alguém fala, em público, que “ninguém faz nada” contra irregularidade ou suspeitas de. Eles mostram, com listas como as que o Vieirão publica, que têm tomado iniciativas, dentro do que é possível fazer. Só que tem casos que não dá para ir muito além de espernear e se queixar ao bispo.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Quarta

DPM? QUE DPM?
Uma das principais linhas de ação da oposição em Santa Catarina é a da fiscalização e da crítica à publicidade oficial. Dos valores envolvidos aos procedimentos, sempre que sobra um rabinho exposto o PP trata de dar uma beliscada.

Aqueles trechos de comentários de leitores que publiquei ontem falavam sobre essas questões. Provocados pela notícia, que está no site do Tribunal de Contas e que eu comentei aqui, sobre as dificuldades da Santur para explicar despesas com a Letras Brasileiras, foram levantadas outras questões na mesma linha.

O leitor que não for do meio publicitário ou da comunicação deve ter ficado boiando em algumas notas. Ali se falou, por exemplo, na DPM, a produtora preferida do governo. Que diabos vem a ser isso?

E ninguém falou ainda, mas inevitavelmente acabará entrando na conversa, a agência do célebre Wilfredo, a One WG Multicomunicação (ou que nome tenha agora). Acho que o meu amigo e a minha amiga, que lê o DIARINHO e dá uma paradinha aqui na página três, merece que eu explique estes rolos um pouco mais.

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Todo governo, ao iniciar, escolhe, numa licitação, as agências de publicidade com que vai trabalhar. Coincidentemente (e isto não é invenção do período LHS, é bom que se diga), ganha a agência queridinha do governador. Geralmente a que atuou durante a campanha eleitoral.

Aqui, no início do primeiro mandato, a licitação escolheu oito agências, todas amigas entre si, com fatias de tamanhos diferentes. O filé ficou adivinha com quem? Até aí nenhuma novidade. Foi assim nos governos anteriores. É assim nos outros estados.

E com essa licitação para escolha da agência, acaba-se a história de licitações. Os demais fornecedores dessa cadeia de produção não são escolhidos por licitação. É óbvio, portanto, que as agências que vão trabalhar com o governo, usem a produtora de vídeo, por exemplo, de sua confiança. Confiança do governo, também. Confiança que vem de serviços prestados durante a campanha e até antes dela.

A produtora queridinha do governo é a DPM. As agências que ganharam a licitação do governo amam de paixão a DPM. Confiariam suas próprias mães à guarda da DPM, se a produtora tivesse uma casa de repouso ou um SPA. É assim em outros estados, foi assim em outros governos.

Só que o PP (que é oposição), não se conforma com isso. E viu ilegalidades na contratação da DPM. Tanto que, no meio do ano passado, protocolou no Tribunal de Contas do Estado e no Ministério Público estadual, uma denúncia (leia alguns trechos abaixo) de “irregularidade e ilegalidade”, que esmiuça a campanha “Santa Catarina em Ação” e levanta uma série de suspeitas, que estão sendo examinadas pelos dois órgãos, que até o momento não decidiram se acatam a denúncia e tomam alguma providência ou se engavetam o pedido do PP.

Claro que as agências e produtoras que ficaram de fora, ficam jogando gasolina na fogueira.

O DIA EM QUE O PP PEGOU NO PÉ DA DPM

O que está em letrinhas miudinhas a seguir são trechos da denúncia protocolada pelo PP contra o governador LHS e seu secretário de Comunicação. Onde tem (...) é porque retirei pedaços, pra não ficar muito extenso. Mas como o documento é público, qualquer interessado poderá ter acesso à sua íntegra. O texto restante é ipsis litteris, tal e qual o original.

(...) O PARTIDO PROGRESSISTA - PP, por seu Presidente do Diretório Estadual, JOARES CARLOS PONTICELLI, vem a presença de Vossa Excelência, oferecer denuncia de irregularidade e ilegalidade perante Essa Procuradoria, em desfavor do ex-governador do Estado LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA e DERLY MASSAUD DE ANUNCIAÇÃO, Secretário de Estado da Comunicação, pelos fatos e fundamentos que pede vênia para expor.

1. A partir do início do ano de 2005, o Governo do Estado de Santa Catarina, então comandado pelo primeiro denunciado, inundou os órgãos de comunicação (radio,tv e jornais) de nosso Estado, com uma campanha publicitária denominada SANTA CATARINA EM AÇÃO.

(...)
6. Assim, de acordo com o § 4º, da Cláusula VI – DO PREÇO E DAS CODIÇÕES DA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS - dos contratos decorrentes da Concorrência Pública nº 001/2003/SEI, que prescreve:

“Parágrafo 4º - A contratação de fornecedores ou prestadores de serviços necessário a execução do objeto deste Contrato, por parte da contratada, deverá estar respaldada na juntada de, no mínimo, três orçamentos obtidos de empresas ou profissionais do ramo, de idêntica qualificação técnica, ressalvada a hipótese de comprovada inexistência d mais de um fornecedor ou prestador de serviços.

O que se constatou, foi o total descumprimento do citado dispositivo legal, conforme se demonstra no relatório e documentos de AUTORIZAÇÃO DE PRODUÇÃO, ESTIMATIVAS DE CUSTOS e ORÇAMENTOS DE PRODUTORAS, fotocopiados da Pasta nº 02, das informações prestadas a Unidade da Fazenda Pública da Capital anexada a presente.

Assim, constata-se o seguinte:

1. somente a produtora DPM Cine Vídeo venceu todas as 65 (sessenta e cinco) “licitações”;

2. a produtora PróTV, posteriormente substituída pela GET Soluções, sempre apresentou o segundo orçamento.

Há que se observar que a empresa GET Soluções não atende o requisito do § 4º, da cláusula 6ª já citado, pois não apresenta “idêntica qualificação técnica” como o exigido, pois se trata tão somente de um BANCO DE IMAGENS, não dispondo de pessoal nem de equipamentos necessários para a produção de Vts. Conforme roteiros especificados pelas agências de propaganda;

3. coincidentemente a Produtora CRISTAL sempre apresentou o terceiro orçamento, invariavelmente mais caro;

4. estranhamente a Agência Pólo, Equipe Borghorf, somente em um (01) pré-orçamento (estimativa) dos nove (09) que apresentou colocou data;

5. observando-se a planilha em anexo (doc. 03), as datas assinaladas em vermelho demonstram que a autorização para produção que deveria ser o último ato da cadeia processual, estranhamente era o primeiro, quando por vezes os orçamentos das agências e das produtoras nem data tinham;

6. em diversas ocasiões as datas de estimativa de custo das agências, dos orçamentos das três (03) produtoras e das Autorizações da Secretaria de Comunicação “milagrosamente” são as mesmas, embora uma produtora (Pró TV) esteja sediada em Joinville;

7. Todos os roteiros de produção dos cento e dois (102) Vts. São idênticos das cinco (05) agências prestadoras de serviços, modificando apenas os objetos a serem filmados.

8. Do conjunto de informações levantadas, restou configurado que os orçamentos apresentados pelas produtoras foram feitos posteriormente, somente para dar “cobertura legal” à Produtora DPM, coincidentemente sediada a Rua Pastor Fritz Buhler, 87, centro – Joinville – SC.

Acrescente-se a isso que a outra produtora Pró TV, também é sediada em Joinville a rua Coronel Santiago, 186.

9. Quanto ao custo de produção de Vts, com a mesma duração e o mesmo roteiro, encontram-se preços praticados em:
09/12/2004 por R$ 27.556,00;
17/03/2005 por R$ 31.331,88;
28/04/2005 por R$ 49.600,00.

Note-se que a variação de preços do primeiro Vt para o terceiro é de 79,99%, num período de pouco mais de quatro meses, sem qualquer justificativa legal.

10. Some-se ao estarrecedor rol de ilegalidades e irregularidades, a cobrança ilegal, por parte da Agência One WG Multicomunicação, por realização de SERVIÇOS INTERNOS DE CRIAÇÃO DE ROTEIROS que na realidade não existiram, pois os roteiros para os cento e dois (102) Vts são os mesmos, o que se confirma nos orçamentos das demais 5 agências, que não cobraram referidos custos.

12. Não satisfeita com a cobrança de serviços não executados, a Agência One WG Multicomunicação superfaturou os valores tendo em vista que a TABELA REFERENCIAL DE PREÇOS Nº 31 DE SERVIÇOS INTERNOS, do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de Santa Catarina (doc.04), prevê o custo máximo de R$ 3.000,00 (três mil reais) para ROTEIROS DE PEÇAS ELETRÔNICAS (letra h, da referida tabela), sendo a mesma cobrada pela pela referida Agência pelo valor de R$ 7.140,00 (sete mil e cento e quarenta reais).

13. A PLANILHA DE PROPOSTAS DE PRODUÇÃO, (...) demonstra com clareza a simulação na apresentação de orçamentos, aposteriori, para dar ares de legalidade na contratação da Produtora DPM de Joinville, por coincidência, cidade do Governador, que resultou no expressivo faturamento de R$ 4.012.134,77 (quatro milhões, doze mil cento e trinta e quatro reais e setenta e sete centavos), somente em produção para a campanha “SANTA CATARINA EM AÇÃO”.
(...)
Florianópolis, 05 de julho de 2006.
Joares Carlos Ponticelli
Presidente


AS LICITAÇÕES
O secretário da Comunicação, Derly Massaud de Anunciação está, naturalmente, acompanhando as investidas da oposição sobre (e sob) a sua área. Ele diz que os procedimentos seguidos pelo governo não são diferentes do que acontecia em outros governos nem do que acontece em outros estados.

Mas acredita que existam situações que precisam ser melhor definidas pela legislação. “A Lei das Licitações, que foi criada principalmente para regulamentar a contratação de obras e compra de produtos, não pode tratar da mesma forma os serviços como os da publicidade”, diz o secretário.

Há, segundo ele, particularidades na definição de preços desses serviços que precisam de um processo específico. Mas não vê, é claro, as irregularidades que o PP vê. “Nós temos um cuidado extremo com o dinheiro, que não é nosso, e estamos sempre buscando dar a maior transparência aos atos da Secretaria e também aperfeiçoando e corrigindo as falhas que eventualmente existam”, afirma.

“FOI SÓ BRINCADEIRA”
O Secretário Derly me disse ontem que não pretende nem nunca pretendeu candidatar-se a deputado ou qualquer outro cargo eletivo. Comentei aqui essa possibilidade, a partir da informação publicada pela colega Adriana Baldissareli, que estava acompanhando a viagem da turma. O Secretário diz que a história apareceu num momento de descontração e que não era para ser levada a sério.

AMIGOS DO ADEMIR
Amigos e amigas do Ademir Rosa reuniram-se e produziram um livro que o homenageia. O lançamento é hoje às 7 da noite na Assembléia Legislativa. O Ademir foi um artista popular que, falecido ainda muito jovem, virou nome do maior teatro da capital, o do CIC.

Minha ex-aluna Adriane Canan editou o livro e a minha outra ex-aluna, Cristiane Cardoso, fez o projeto gráfico. Produção da Edilma Rosa e da Santina Marafon. O deputado Pedro Uczai é o organizador e vários autores assinam os textos sobre as paixões do Ademir.

terça-feira, 27 de março de 2007

Aviso aos navegantes

Caros leitores e leitoras: ali na coluna do lado, mais embaixo, tem um texto onde procuro deixar claro que a minha responsabilidade sobre o que é inserido nos comentários é limitada. Mas ainda assim, a responsabilidade sobre o conteúdo do blog é minha. E como a turma gosta de descer o cacete mas prefere não assinar, de vez em quando (sempre que o debate esquenta), sou obrigado a lembrar vocês dessas limitações.

Além disso, quando vejo que alguém passou da conta, sou obrigado a apagar o comentário. Não porque queira censurar vocês ou inibir o debate, mas porque os textos dos anônimos podem ser, caso alguém se sinta ofendido e queira me azucrinar, atribuídos a mim. E aí, meus amigos, até provar que tomada não é focinho de porco, já tive que vender meu Ford Fiesta.

Estou falando isso aí porque hoje fiz uma poda nos comentários dos posts mais recentes. Se alguém achou que foi injustamente apagado, é só entrar em contato, se identificar, e a gente vê se é o caso de voltar ao assunto.

Da mesma forma, sempre que alguém achar que algum comentário, anônimo ou não, na coluna ou no espaço de comentários, é calunioso ou ofensivo, é só entrar em contato. O objetivo da coluna (e, portanto, do blog), não é difamar pessoas, mas criticar atos públicos de figuras públicas. Fiscalizar o uso do dinheiro público e a ação dos agentes políticos. E o contraditório é importante, mantém o debate aceso e ajuda a democracia a se aperfeiçoar.

É isso. E agora com licença que vou preparar a coluna de amanhã, com mais pano pra manga.

Terça

MAIS UM QUE FOI ANTES DO TEMPO

O Horácio Braun, que morreu no sábado, era mais do que apenas um boêmio divertido, mais do que um piadista inconseqüente. Quando a gente o encontrava num bar e tinha a honra e o prazer de poder acompanhá-lo por algumas horas, talvez nem se desse conta da importância do Horácio.

Existem sujeitos que dão alma às cidades. Muitos fazem isso intuitivamente, sem entender direito seu próprio papel e importância. Outros, como era o caso do Horácio, publicitário, marqueteiro, sabem exatamente o que estão fazendo e a utilidade do seu jeito de ser para que as coisas sejam como devem ser.

Cada cidade com alma tem gente como o Horácio. E gente como o Ingo Quase (digo, Ingo Penz), para citar o companheiro do Horácio dos tempos iniciais da motocicleta do chope. O Ingo é outro, que tem enorme valor para que a alma blumenauense se revele.

Em dezembro, quando comecei a descobrir as delícias de morar em Itajaí e a explorar as atrações das proximidades, fui a Brusque, na Zehn Bier, num final de tarde. Por coincidência, encontrei lá o Horácio, que estava numa mesa com o dono da cervejaria. E é claro que a noite foi agradabilíssima.

A certa altura chegou um “Papai Noel” de MG (aquele carrinho conversível). Era um empresário brusquense, cujo nome não guardei, amigo do Horácio. Tão divertido quanto ele. Provavelmente daqueles que ajudam a dar alma à cidade. No caso, Brusque. O “Papai Noel” sai pela cidade distribuindo balas, divertindo a garotada no seu carrinho. Faz isso todos os anos.

E depois, um chope pra descansar da tarde de “trabalho”. Ficou muito engraçada, aquela mesa. Com o Horácio e suas tiradas e um Papai Noel, de barba branca e roupa vermelha, tomando chope.

Era assim, o Horácio: um agregador, um catalisador, um provocador e um instigador. Um daqueles sujeitos que dão alma às cidades. Sem gente como o Horácio, as cidades secam por dentro e ficam sendo apenas ajuntamentos de pessoas e casas, onde as aflições e tristezas do dia-a-dia parecem predominar e obscurecem a alegria de viver.

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OS LEITORES FALAM

A punição que o Tribunal de Contas do Estado aplicou ao ex-presidente da Santur, Jorge Meira por causa de aquisição irregular de material promocional, fez com que alguns leitores desta coluna levantassem questões correlatas. Reproduzo abaixo alguns trechos de comentários de leitores. Alguns servem como estímulo para que o Ministério Público e o próprio Tribunal de Contas continuem olhando com cuidado para como o nosso dinheiro é utilizado.

NINGUÉM ENTRA
“Existem no estado no mínimo uma dezena de empresas capazes de realizar o mesmo serviço, basicamente arte-gráfica, edição e tradução. Dizer que só a Letras tem capacidade de realizar essa produção é um acinte ao mercado. O argumento de que só essa Editora apresenta o material já pronto é furado, pois só ela, financiada por milhões, é que pode fazer isso num ciclo vicioso que ninguém consegue entrar. Outro agravante é que assim com eu, várias outras empresas estiveram na Santur apresentando seus portifólios e competências para realizar esse serviço. Outro detalhe que deve ser investigado é a gráfica utilizada (de São José), que não tem preço competitivo, mas que entrou goela abaixo da Editora”.
CPI DA HORA
“É por essas e outras que a CPI da moralidade está cabendo muito bem. São escândalos em cima de escândalos.”
UMA OLHADA NA DPM
“E já que é pra falar de concentração de verba do governo catarinense, que tal dar uma investigada no setor de produção de vídeo? A produtora DPM é a Letras Brasileiras da Secretaria de Comunicação, ou ninguém sabe disso? As agências de propaganda que dividem (não em partes iguais, é evidente) a conta do governo estadual, são pautadas para trabalhar pesado com a produtora de Joinville. Pautadas é pra ser delicado. Na verdade, se orçam com outras produtoras um trabalho, levam um baita puxão de orelha lá do Centro Administrativo”.

“Vale fazer uma comparação entre os mandatos do governador e o crescimento da produtora. Por outro lado, também basta verificar a situação dos demais players catarinenses nesse segmento, literalmente de pires na mão, pra desconfiar dessa hegemonia da toda poderosa DPM...”

“O esquema de fornecedores no setor de comunicação não foi, sequer, disfarçado como pretendia o secretário ao licitar a conta publicitária e entregar alguns pedacinhos dela para outras agências de publicidade catarinenses, além da titular. Aliás, por que não licitaram também o fornecimento de serviços de produção audiovisual?”
RIQUEZA SAZONAL
“Quem trabalha na campanha eleitoral, vira o fornecedor oficial por quatro anos. E em quatro anos, nascem novos ricos empresários de comunicação e propaganda. O pessoal é esforçado, trabalha pesado pra enriquecer no mandato, torce pra reeleição. Se emplacar, tá dez. Se não, lá vem falência. Essa troca de gentilezas toda é com o nosso dinheiro. Brincadeira, né?”

OS TRÊS PATETAS

Transcrevo abaixo a opinião do editor-chefe do Jornal do Brasil, Mário Marona, sobre essa piada que virou o caos aéreo brasileiro. O grifo é meu.
“O Brasil deve ser um dos únicos países do mundo em que uma neblina fecha aeroportos. Pior ainda: uma neblina com sol a pino paralisou Cumbica, o maior aeroporto brasileiro, durante quase quatro horas.

A explicação dos controladores de vôo é a de sempre: falha nos equipamentos. Não houve neblina que justificasse o fechamento dos aeroportos. O que aconteceu, pela enésima vez, foi que os controladores de vôo trataram o ministro da Defesa como um parvo e ele e os presidente da Infraero e da Anac como os Três Patetas.

Tem sido assim desde novembro, quando o apagão aéreo teve início. E foram necessários cinco meses de desrespeito com os passageiros e com os “comandantes” do setor para que Waldir Pires dissesse que, desta vez, vai punir rigorosamente os responsáveis.

Mandou abrir inquérito, mas tenham certeza: nada vai acontecer.”
REPUBLIQUETA
O equipamento que permite aos grandes jatos aterrisar mesmo numa neblina densa, já está consertado, mas espera um teste que um avião da FAB deve fazer: só que este avião está pifado.

O EMBAIXADOR
LHS, cada vez que volta de viagem dá entrevistas para explicar o que foi fazer e mostrar os “resultados”. Morre de medo, o governo (principalmente os secretários mais inseguros, aqueles que tratam como inimigos os jornalistas que têm uma visão mais crítica), que a gente diga que a viagem foi um passeio sem grandes conseqüências.

Jamais direi isso. Primeiro porque uma viagem oficial de um governante, mesmo licenciado (se passou o governo para o vice, quem viajou não foi o governador, foi um governador licenciado, o governador estava aqui) e comitiva, nunca é sem conseqüência. Segundo porque a história já mostrou que nas relações entre os povos e no desenvolvimento da economia, as relações internacionais são muito importantes.

Para isso é que os Países mantém embaixadas, embaixadores e outros funcionários especializados nesse tipo de trabalho internacional. A ida de uma delegação como esta, de governador licenciado e algumas autoridades locais, tem sua importância, mas não podemos superestimar seu potencial.

As decisões de negócios, principalmente de investimentos, são tomadas com base numa série de dados, prospecções e avaliações. O convite do governador licenciado, o aceno de auxílio público, as promessas verbais de facilitação, terão algum peso. Mas não todo.

sábado, 24 de março de 2007

Sábado, domingo e segunda

O RETORNO

Desde ontem Santa Catarina tem apenas um governador, novamente. Ao chegar da Europa, dizendo que “abreviou a estada” para chegar a tempo de comemorar o aniversário da capital, LHS volta para a dura realidade, o dia-a-dia estafante da política e da fofoca política.

Segundo a crônica da viagem, feita por quem acompanhou o passeio, o secretário da Comunicação embarcou para a Europa como um técnico e retorna como um candidato a candidato. Pensa em talvez, quem sabe, candidatar-se a deputado. Deve ser para testar sua capacidade de comunicação com as massas e seu carisma no trato com o público. Talentos que, até agora, ele manteve ocultos sob um jeitão de executivo sem aspiração a mandatos eletivos.

E os bombeiros do PMDB tentam apagar o fogo que o Dejadir Dalpasquale ateou na beira da estrada. O fósforo do Dejandir, em todo caso, parece ser daqueles pequenos, que não causam muito dano. Dizer que teve gente no governo que enriqueceu mas não dizer-lhes os nomes, nem explicar os casos, é a mesma coisa que dizer, como disse Lula uma vez, que no Congresso “tem 300 picaretas”. Logo logo fica o dito pelo não dito. E a turma vai poder a tirar seus carrões da garagem de novo.

Na Assembléia a Reforma vai indo. O líder João Henrique Blasi, com o treino adquirido nas reformas anteriores e sua experiência em lidar com os ventos que sopram no parlamento, não se aperta.

O prefeito da capital está mais calmo desde que soube que a Casvig não seria escorraçada dos contratos do governo ou o governo parou de bulir com a Casvig porque o prefeito está mais calmo?

Ah, aposto que o LHS já estava sentindo falta desses dilemas da política. Viajar, conhecer novos amigos, dar e receber presentes, visitar países estrangeiros, tudo isso é muito bom, ainda mais quando alguém paga a conta, mas não há nada como voltar para o seu próprio palácio residencial.

O ESCÂNDALO DAS OUTRAS LETRAS
O Tribunal de Contas do Estado considerou furadas as justificativas apresentadas pelo ex-presidente da Santur, Jorge Meira, para gastar, de 2003 a 2006, quase R$ 5 milhões sem licitação com a Editora Letras Brasileiras Ltda., que produz o material turístico que o estado utiliza.

A Santur comprou, dessa Editora, sem licitação e sem burocracia, revistas e material turístico promocional. Era a fornecedora única e exclusiva da Santur. Um negócio da China. A explicação do Meira, que o TCE não engoliu: “os materiais adquiridos podem ser considerados exclusivos, ou seja, sem similares (sic) no mercado, em face de suas características, como alta especialização em turismo catarinense, com versões em vários idiomas”. A Santur, segundo o ex-diretor, “não possui nenhuma outra opção de compra de produtos que atendam suas necessidades de divulgação”.

Só por causa do processo de 2003 (quando a despesa com as Letras foi de R$ 568 mil), o TCE já tascou quatro multinhas no Jorge Meira. As multas somam apenas R$ 12 mil. E é claro que isto não é nada perto do meio milhão recebido.

Mas o conselheiro Moacir Bertoli disse que um levantamento preliminar mostra que a mesma prática de 2003 ocorreu nos anos seguintes, até 2006. Ou seja, a coisa ainda vai render.

Além de não fazer licitação, a Santur não comprovou que os preços acertados estavam de acordo com os padrões do mercado editorial.

AOS AMIGOS, TUDO
A Letras Brasileiras é do Werner Zotz. Não se questiona a qualidade do material produzido ali. Nem os talentos do Zotz, que foi apresentado, num evento de literatura da UFSC, desta forma:
“espírito multifacetado, versátil, inquieto e aventureiro, além de escritor, Werner Zotz é professor, jornalista, publicitário, fotógrafo e editor. Com igual naturalidade é capaz de vestir terno e gravata para enfrentar rodadas de negócios em São Paulo e Brasília, passar semanas viajando em solitário, ou ainda aventurar-se pelos sertões brasileiros”.
O problema está na forma como o governo resolveu “adotar” o material da Letras Brasileiras, remunerando-o com nosso dinheiro, sem cumprir os requisitos legais. O sol, como se sabe, nasce para todos, e a sombra para quem sabe o caminho da dispensa de licitação.

Werner Zotz foi um dos secretários do governo Pedro Ivo. E de lá pra cá notabilizou-se como editor de revistas (como a Mares do Sul) e autor de livros infanto-juvenis (um dos maiores do País, segundo o jornal Voz da Unidade).

CASSINO SC
Três procuradores da República que atuam em SC acham que o decreto do LHS liberando os caça-níqueis vai contra a decisão do Supremo Tribunal Federal. O Ministério Público Federal pretende derrubar na Justiça o ato do governo.

Do outro lado, a Procuradoria Geral do Estado e a Codesc fazem de tudo para encontrar uma forma de transformar Santa Catarina num estado de jogo liberado. Uma espécie de Las Vegas sem o CSI.

Não sei vocês, mas eu tenho muita curiosidade sobre os motivos que levam o governo a investir tanto tempo e dinheiro públicos na defesa dessa causa. Causa, aliás, que nos outros países é defendida pela iniciativa privada que pretende beneficiar-se com a eventual legalização do jogo.

E na busca desesperada de uma saída, lutando contra a legislação federal, o governo acaba se expondo, nos tribunais superiores, a situações constrangedoras. Sem qualquer necessidade, a meu ver. Porque se alguém quer fazer lobby pelos cassinos, que faça. Mas não com o meu dinheiro.

BEATOS BRASILEIROS
Três beatos brasileiros estão na fila para serem canonizados, dizem os jornais. Acho que a conta está errada. Basta olhar em qualquer fila, do INSS, das emergências, das repartições públicas em geral, para ver que o número de beatos, de quase santos, é enorme.

Só um santo para agüentar o que a maioria dos brasileiros agüenta. Só santos aturam tanta coisa com tamanha placidez. Temo que nem Gandhi, com sua desarmada paciência, teria tanta calma. Alguém tem que dizer a Sua Santidade que a lista de beatos brasileiros é enorme. Mas que não se preocupe, porque eles estão acostumados a esperar na fila, sem fazer arruaça.

NADA É IMPOSSÍVEL
Depois da Nair Belo sair de um coma de três meses, só falta o Maneca Dias virar Ministro da Previdência.

[Clique sobre a foto para abrir uma ampliação]

sexta-feira, 23 de março de 2007

Parabéns, Florianópolis!

Neste feriado em que se comemora um dos aniversários de Florianópolis, tenho que fazer um certo esforço para não pensar, nem falar, nas coisas que andam me incomodando muito nesta nossa capital. Não fica bem, numa festa, a gente ficar apontando o dedo e reclamando. Mas não resisto.

Não temos os vereadores que gostaríamos de ter. Os que aí estão não parecem muito preocupados em estudar, em conhecer os problemas, em discutir soluções. Agem com rapidez para alterar o Plano Diretor aqui e ali, conforme interesses claros, explícitos e públicos, mas nem sempre lícitos.

Só que a gente não quer saber dos partidos, tem nojo de políticos, quer distância dessa raça. E leva um susto quando, às vésperas da eleição, aparecem aqueles nomes manjados como candidatos. A eleição do ano que vem, para renovar a Câmara de Vereadores e a prefeitura, já começou a ser decidida. Daqui a pouco já se saberá, nos partidos, quem serão os candidatos. E a gente, mais por fora que o Lula.

No ano que vem teremos os candidatos de sempre. Serão eleitos os de sempre, com os esquemas de sempre. A única coisa que nunca mais será a mesma, será a nossa cidade. Coitada.

Quando chega esta época, o maravilhoso outono ilhéu, Florianópolis veste sua melhor roupagem. Temperaturas amenas, paisagem límpida, entardeceres de cinema, amanheceres espetaculares, cores e luzes inacreditáveis.

Como dizem por aí, no dia do aniversário acaba o inferno astral e inicia um período de bons ventos. Com a capital acontece isto. Descabelada, desarrumada, atrapalhada por causa do verão e da quantidade cada vez maior de visitas, Florianópolis transforma-se, depois do aniversário.

E até maio parece outra cidade, daquelas que obriga a gente a andar sempre com uma máquina fotográfica, porque cada momento é de uma beleza única, cada recanto tem uma luminosidade especial e não dá pra confiar apenas na memória.

Mesmo porque, daqui a algum tempo, pode ser que tudo seja muito diferente e precisemos mostrar pros nossos netos e bisnetos que o vô não tá louco: esta era mesmo a terra de sol e mar, era, de verdade, a terra dos ocasos raros.

E no outono, depois de fazer aniversário, transforma-se numa cidade irresistível. E se alguém anda meio triste com o que estão fazendo com a cidade, aproveite esta época para alegrar-se e espairecer um pouco.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Quinta

OUTRA EDIÇÃO ESPECIAL
EM HOMENAGEM À SEMANA DE FLORIANÓPOLIS

OS AUTORES!
Me informa o grande guru da manezice ilhoa, o baluarte da maneziologia, Chico Amante, que aquele teste que publiquei ontem foi criado pelo Roney Prazeres e pelo Wilson Pires. “Ambos funcionários da Caixa Econômica Federal e autênticos Manezinhos da Ilha, como nós”, disse o Chico.

O Chico chegou a publicar o teste no jornal A Fonte, no ano passado. E o Carlos Damião também mandou dizer que sabia que a coisa tinha começado com o Roney e mais alguém. Agora tá esclarecida a autoria. O que publiquei ontem deve estar um pouco diferente do original, porque mané que é mané cada vez que conta um conto aumenta (ou diminui) um ponto.

O QUE VAI PELO MUNDO
Estava com remorso de ficar só falando do passado, mostrando fotos e jogando conversa fora, com tanta coisa acontecendo em Santa Catarina, no Brasil e no mundo. Até dei uma olhada pela janela. Mas aí vi uma gritaçada no PMDB por causa da roupa suja que o Dejandir resolveu lavar, o Lula fazendo trocadilho com o nome do Putin e o LHS inventando moda. Chega. É melhor abrir o álbum de fotos e comemorar as boas lembranças da nossa cidade.

[Para ampliar as fotos é só clicar sobre elas]

O centro e os antigos monumentos, como a igreja de São Francisco, a Figueira e a Alfândega, submergem num mar de pouco caso, de falta de inteligência cultural e urbanística. A mediocridade está soterrando a cidade dos nossos sonhos.
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Instituto Palhares de Lembranças Safadinhas
para Avivar a Memória dos Velhinhos Taradinhos apresenta:


“Estavas linda, de sainha plissada!”

Só quem já ficou, um dia, parado na Felipe Schmidt, encostado na parede, perto de algum fusca com aquelas calotas redondas cromadas, vai saber do que estou falando. Porque houve um tempo, no século passado, em que a Felipe Schmidt era uma rua como qualquer outra, onde os carros passavam e estacionavam. E tinha calçadas, como tantas ruas. E, aí é que está a maravilha, por essas calçadas passavam alunas do colégio Coração de Jesus, com suas saias plissadas. Não sei qual foi o tarado que descobriu, mas as calotas dos fuscas refletiam muito bem. Eram bem cromadas e muitos dos donos mantinham os carros bem limpos. E vários deles estacionavam ao longo das calçadas da Felipe Schmidt.

Nos dias de vento sul nem precisava das calotas. A Felipe Schmidt foi cientificamente construída de tal maneira que o vento sul encana, rebate nas construções dos dois lados e forma uma corrente ascendente. Não há saia que resista. Muito menos saias plissadas. E as meninas tinham que segurar a pasta e tentar manter as saias no lugar, usando apenas duas mãos. Isso quando o vento não desmanchava os cabelos e o dilema aumentava: segurar a saia ou o cabelo?

Nos dias de vento nordeste ou de pouco vento, as calotas dos fuscas funcionavam direitinho. Ficava aquela fila de garotões encostados nas paredes da papelaria Recorde, ou de qualquer outra, mais adiante (o que é que era mesmo ali onde hoje é a Kilar?), até a Az de Ouro. O terminal de ônibus era no Largo Fagundes (ao lado de onde hoje é a Americanas). E elas tinham que ir pela Felipe Schmidt até ali.

Outro sucesso, mais ou menos nessa época, eram os DKW Vemag. Bons carros, com motor de dois tempos, abriam as portas da frente pela frente. Dá para entender melhor olhando a foto abaixo. Pois bem, tinha malandro que ficava de olho quando passava um DKW desses dirigido por uma mulher. Assim que ela parasse, num posto de gasolina ou em outro lugar e precisasse sair do carro, se estivesse de saia ou vestido certamente daria um showzinho. Não tinha como sair do carro, com a porta abrindo desse jeito, sem mostrar as pernas. Veja bem, estamos no final da década de 60, época em que um joelho aparecendo ainda tinha seu valor. Acho que a fábrica percebeu a que estava expondo suas clientes e logo mudou a abertura das portas. Aí o carro perdeu a graça.

E já que estamos nesses assuntos profanos, vamos adiante. Motel é coisa recente. O Meiembipe só abriu em abril de 1974 (lembram?). Antes disso, cada um se virava como podia. Um dos melhores lugares para estacionar o fusca (todo mundo tinha fusca naquela época, aliás, só tinha fusca, naquela época) era ali onde hoje é o Jurerê Internacional. Da estradinha deserta que levava ao forte saíam, em direção ao mar, inúmeras “picadas” abertas na vegetação litorânea cerrada. Privacidade, contato com a natureza, a lua e o barulho do mar. Queres mais?

Até que começaram a aparecer mortos degolados nuns matinhos perto da Universidade e a gente percebeu que o paraíso estava terminando. E que essa Florianópolis das saias plissadas, das calotas de fusca e das praias desertas tinha acabado.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Quarta

Instituto Tio Cesar de Questões Fundamentais para
o Desenvolvimento Humano apresenta:
UM GRANDE TESTE EM HOMENAGEM À SEMANA DE FLORIANÓPOLIS
Ser Manezinho da Ilha é...
Algumas versões deste texto estão circulando por e-mail e naturalmente a autoria já se perdeu. E cada um que repassa acrescenta alguma coisa. É uma espécie de obra coletiva, que embora tenha sido iniciada por alguém, que seria bom citar e agradecer*, já faz parte do patrimônio cultural da manezice ilhoa.

*Abre parênteses: a autoria foi recuperada! Os autores são o advogado Roney Prazeres e o Wilson Pires Ferreira Júnior, que trabalha na CEF. Muito obrigado pela boa sacada. Fecha parênteses.

Vamos lá: para ser um verdadeiro Mané tu precisas preencher, pelo menos, 80% dos requisitos abaixo enumerados, caso contrário não adianta receber troféu de Mané e nem freqüentar o Mercado Público todos os dias por cinco anos seguidos.

O teste tem um problema grave: dá impressão que só pode ser manezinho quem tem mais de 50 anos. Mas outro dia a gente inventa uma coisa para testar os manezinhos jovens. Então tá, pra ser um autêntico Mané tu precisas, ô istepô:

1) Antes de qualquer coisa, ter nascido na Ilha de Santa Catarina, seja na Carmela Dutra, na Carlos Correa, na São Sebastião ou mesmo de parteira. Vale também no continente (leia-se Estreito ou, em puro manezês, Streitcho). Só não adianta vir com essa história que nasceu fora e veio morar aqui pequenininho;

2) Falar manezês fluente, tão rápido que deixa o cristão que te ouve meio tanso;

3) Falar 60% das palavras no diminutivo (Vais querê um cafezinho com pãozinho ou com bolinho de chuva?);

4) Gostar do cheiro das bancas de peixe do Mercado Público. Nada de tapar o nariz pra comprar camarão;

5) Ter assistido um Avaí e Figueirense no Campo da Liga e, de preferência, ter fugido com a bola quando um perna-de-pau chutou ela pra fora do campo;

6) Ter, pelo menos uma vez na vida, subido a Avenida Tico-Tico (e saber hoje em dia onde fica);

7) Ter feito, ajudado a fazer ou ter dançado no boi de mamão;

8) Ter participado da farra do boi ou, pelo menos, ter fugido em carreira, todo borrado, com medo do pobre animal;

9) Ter tomado banho na Lagoa da Conceição, na praia do Vai-quem-quer ou no Balneário, sem medo de pegar pereba;

10) Ter comprado empadinha na Confeitaria Chiquinho;

11) Ter tomado picolé de côco, sorvete de butiá, Xic-xic ou Beijo Frio na Satélite ou na Cocota;

12) Ter saído em bloco de sujo no carnaval vestido de mulher e continuar gostando de rapariga;

13) Ter guardado no rancho: caniço, tarrafa, puçá, coca, jereré e pomboca (“Prá módi pegá uns sirizinho, uns camarãozinho, uns peixinho...”);

14) Ter comprado na venda: bala azedinha; pé de moleque; quebra-queixo; maria-mole; pirulito açucarado em forma de peixe; bala Rococo; Tablete Dalva; Guaraná Pureza; Chocoleite; groselha (grosel) ou laranjinha Max William.

15) Acreditar em bruxa e nas histórias do Franklin Cascaes;

16) Ter assistido na TV Cultura um filme na Poltrona 6 e, para as senhoras, o programa “Celso e a Sociedade” (a Metralhadora Platinada);

17) Entender tudo o que o Miguel Livramento fala, não aceitar nada do que o Paulo Brito diz e tentar descobrir para qual time da Capital o Roberto Alves torce (sem acreditar naquela história de que ele ainda é torcedor do Paula Ramos);

18) Saber a diferença entre o Jorge Salum e o Roberto Salum e saber qual dos dois vendia tecidos e qual era radialista;

19) Ter ouvido o programa do Walter Souza na Diário da Manhã, depois do Vanguarda, e ter tentado ganhar os discos que ele dava para quem cumpria a tarefa do dia;

20) Sentir enorme prazer ao comer uma boa posta de tainha frita, com “pirão de náilo”, ou então, aquele berbigãozinho ensopadinho derramado sobre um pirãozinho de feijão;

21) Saber a diferença entre pirão de náilo e pirão jacuba;

22) Ter curtido um baile de carnaval no Lira, no LIC, no Doze ou no Limoense e dançado no Paineiras ou no Seis;

23) Ter assistido desfile de escola de samba e de carros alegóricos e de mutação ao redor da Praça XV;

24) Saber que o “Dr. Alcides Abreu”, que só se veste de branco, não é médico coisa nenhuma;

25) Defender a mudança do nome da cidade para Nossa Senhora do Desterro e, se algum gaúcho concordar, mudar imediatamente de idéia;

26) Ter passado pela Ponte Hercílio Luz de carro, a pé ou de bicicleta e não entender por que a deixaram ficar nesse estado lamentável;

27) Ficar horas no Ponto Chic, tomando cafezinho e discutindo política, futebol e mulher (não obrigatoriamente nessa ordem);

28) Ser Figueirense e secar o Avaí, ser Avaí e secar o Figueirense e depois falar mal de qualquer árbitro que apite um Clássico;

29) Ter andado em ônibus da Empresa Florianópolis, Limoense, Taner ou da Trindadense;

30) Ter ouvido a Neide Mariarrosa no “Amarelinho”;

31) Ter comprado um bilhete de loteria federal da Lurdes (com redinha na cabeça e tudo);

32) Ter chorado a morte do Zininho e do Aldírio;

33) Ter conhecido o Bataclan, o Gogóia (esse pouca gente se lembra, era da Figueira);

34) Ter ouvido as histórias do Capa Preta;

35) Ter ouvido previsões do A. Seixas Neto.

36) Ter freqüentado, ou apenas conhecido, o Miramar e lamentar a burrice daqueles que permitiram a sua demolição;

37) Ter comprado na Modelar, no Ponto 75, na Grutinha (êta nome sugestivo); nas Casas Coelho; na A Capital; na Az de Ouro; nas Casas Macedônia e na Miscelânia, que era o paraíso da criançada.

38) Ter escolhido carro na C. Ramos ou na Dipronal.

39) Ter ido ao cinema no Roxy, no São José, no Ritz, no Glória ou no Império;


40) Ter visto a procissão do Senhor dos Passos descer a Rua Menino Deus;

41) Se emocionar ao ouvir o Rancho de Amor à Ilha e cantar baixinho como se fosse uma oração;

42) Adorar e odiar o vento sul;

43) Amar o verão, reclamar do calor, só comer tainha em meses que não têm R, achar lindo o garapuvu florido e, pessimista, achar que os Manezinhos e a Ilha estão à beira da extinção.

terça-feira, 20 de março de 2007

Terça

A SEMANA DE FLORIANÓPOLIS
No final desta semana (dia 23) será aniversário da capital. Por isto, todos os dias vou falar um pouquinho desta nossa capital, ou pelo menos daquela capital que ainda guardo no meu coração. Que está cada dia mais distante da cidade que a gente encontra ao sair na rua. Mais ou menos como se, a cada dia, outro Miramar real fosse substituído, como na foto acima (Praça Fernando Machado), por um arremedo, uma maquete. E os grandes ilhéus, como o Zininho e a Neide Mariarrosa (da ilustração abaixo), não fossem mais do que retratos na parede.


LIGAÇÕES PERIGOSAS
A presidente da Associação catarinense das Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), Marise Westphal Hartke, fez alguns comentários, que transcrevo abaixo, sobre a opinião que emiti aqui, no final de semana, a respeito do atrelamento de veículos ao governo.

Antes de passar a palavra para a presidente, queria dizer mais algumas coisinhas, até para que o leitor entenda melhor minha posição.

A Acaert e a Associação dos Diários do Interior (ADI), assim como outras entidades que reúnem veículos de comunicação são, em si, importantes e úteis para o fortalecimento do setor. O que tem me incomodado, de uns anos para cá, é uma certa mistura – negada em público – meio subterrânea, entre o interesse social da entidade e o interesse político do governo.

O interesse social é defender as melhores condições, mais favoráveis, para o bom funcionamento do mercado e dos associados. O interesse do governo é ter o que eles chamam de uma “imprensa favorável”. Ambos interesses são lícitos, dentro de certos limites.

O governo do LHS faz publicidade de maneira sistemática e organizada, usando as entidades como parceiras. E deixando radiodifusores e donos de jornais muito satisfeitos. Há, na fórmula do esquema montado no governo LHS, algum ingrediente que deixa todos muito felizes. Quando uma liminar judicial, obtida pelo PP, fez com que a publicidade oficial fosse suspensa, o mau humor aflorou imediatamente em todas as regiões. O PP foi pressionado a retirar a ação. E em todo canto ouviam-se lamentos e imprecações.

Algum tempo depois restabeleceu-se o fluxo e todos voltaram a sorrir e a achar a vida linda. Esta relação visível entre o bem estar de alguns empresários (vamos admitir exceções, mesmo porque o estado é grande e plural) e as verbas oficiais, é um dos fundamentos da minha suspeita, manifestada no comentário, sobre o envolvimento de uns com os outros.

Outros fundamentos incluem o surgimento de dezenas de jornais diários em mercados onde não ocorreu nenhuma alteração econômica que pudesse justificar o surgimento de um jornal. Se um município cresce, sua economia se torna mais dinâmica e aumenta o dinheiro em circulação, então pode ser que possa sustentar mais um veículo de comunicação. Há, a meu ver, uma necessária (e sadia) correlação.

Mas se o único fato econômico relevante e novo a justificar a criação do jornal é a distribuição de verbas de publicidade oficiais, então não podemos fazer outra coisa além de suspeitar que o jornal esteja atrelado, preso, atado, àquela fonte de recursos que engendrou sua criação e que o mantém.

Claro, há empresários que não vêem mal em aproveitar uma oportunidade como esta. Se está chovendo dinheiro, só um tolo deixaria de colocar panelas, baldes e alguidares na rua, para ver o que consegue recolher. Esta visão pragmática, contudo, nos autoriza a suspeitar que em determinado momento, em nome da viabilidade econômica do negócio, pragmaticamente, algo mais que apenas o espaço publicitário entre na negociação.

E aí, é claro, o resultado concreto é uma ampla “imprensa favorável”.

MALAS E VIAJANTES
“Prezado César Valente,

Sobre sua nota com o título “Malas e viajantes”, a ACAERT – Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão – tem o seguinte a comentar:

– A jornalista Adriana Baldissarelli está acompanhando o roteiro do governador pela Europa através da CNR/SC – Central de Notícias Regionais, que produz material jornalístico para os jornais da ADI/SC e emissoras de rádio da ACAERT.

– A exemplo de outras viagens governamentais e missões empresariais, todas as despesas da jornalista estão sendo custeadas pelas duas entidades e não por recursos governamentais.

– Em nome de suas associadas, a ACAERT refuta qualquer vinculação editorial com o Governo do Estado, já que a entidade não tem dúvidas sobre os serviços jornalísticos prestados, com ética e responsabilidade, pelas suas emissoras.

– Ressaltamos que as emissoras de rádio associadas utilizam o material produzido pela CNR/SC a seu critério, portanto, os departamentos de jornalismo têm liberdade de escolha.”

Marise Westphal Hartke
Presidente da ACAERT
ENDEREÇO DA ADRIANA
Na nota a que a Dona Marise se refere, eu dei o endereço da coluna da Adriana na internet com um pequeno erro. Repito o endereço, agora correto, para quem tiver interesse em ler o que ela conta da viagem do LHS à Europa: www.centralcomunicacao.com.br (aqui no blog já fiz a correção na própria nota do final de semana).

AN CAPITAL EM PAZ

Um dos colegas que trabalha no AN Capital (o suplemento de A Notícia que circula em Florianópolis) pediu, no blog do Carlos Damião, que a gente esqueça deles por uns tempos, que pare de falar que vai fechar e especular sobre a data em que vai fechar.

É compreensível a apreensão. A RBS se prepara para ajustar os produtos do seu mais novo jornal (A Notícia) aos seus projetos. Nem os paralelepípedos da Crispim Mira acreditam que a RBS vá manter o AN Capital, que concorre com dois de seus jornais. Ou continuar com a sucursal do AN separada fisicamente dos demais jornais.

Falou-se numa data (15 de março), mas parece que não tem data fixa. É possível que deixem o suplemento ir apagando as luzes devagarinho, para desaparecer sem alarde. A última coisa que a RBS quer é fazer qualquer marola relacionada com a sua aquisição do A Notícia, que já é, de per si, uma operação suficientemente delicada.

SACO DE GATOS

Depois que a gente acompanha a formação de um secretariado num governo estadual e de um ministério no governo federal, aprende que aquela idéia equivocada, que um líder procura cercar-se de auxiliares competentes, é apenas isto. Uma idéia equivocada.

Secretarias e ministérios são moedas de troca. Não se discute, nem se cogita disso, planos, metas, projetos. Discute-se acobertamentos, cumplicidades, silêncios, apoios e dotes. Como na montagem de uma quadrilha.

sábado, 17 de março de 2007

Sábado, domingo e segunda

O PERSONAGEM DA SEMANA
O Hélio Costa que não é ministro, nem mineiro e nunca trabalhou na Globo, foi o protagonista do grande tititi da semana na capital. Apresentador do SBT Meio-dia, jornal de grande sucesso da Rede SC, da família Petrelli, foi arrancado dali a peso de ouro. A Rede Record, que anda, como nunca, cheia do dinheiro, comprou o passe do Hélio com uma oferta de peso: R$ 60 mil por mês, mais a multa contratual, estimada em cerca de R$ 100 mil na TV.

O motivo do interesse é óbvio: o programa do Hélio na TV era o único a ameaçar a liderança da RBS, ficando na frente em muitos momentos. O programa do Hélio na rádio +Alegria levou a emissora dos Petrelli, em pouco tempo, a liderar entre as AM. E no jornal Notícias do Dia, onde polícia é prato forte do cardápio, ele também tinha uma participação destacada.

Ontem, a Rede SC publicou, no jornal Notícias do Dia, uma “nota ao mercado publicitário”, onde deixava claro que o divórcio não foi ou não está sendo amigável. Afirmam, entre outras coisas, que cláusulas contratuais não foram respeitadas.

A bronca dos Petrelli é porque o Hélio não avisou que começaria na Record agora, nesta segunda-feira. Eles descobriram por acaso e aí tiraram imediatamente o apresentador do ar, substituindo-o pelo Nader Kalil. Nader também já assumiu o horário da manhã na rádio +Alegria. Na rádio, a multa contratual, caso o Hélio resolva sair, é de R$ 50 mil. Se quiser ficar, terá à sua disposição um horário à tarde.

O Hélio é um veterano da reportagem policial. Cinquentão, nascido Hélio Francisco da Costa, manezinho das Capoeiras (ou seria Coloninha?), tem uma longa história no rádio e na TV de Florianópolis. TV Cultura, Eldorado, Guarujá, Guararema, e a própria Record estão entre as casas onde trabalhou.

Durante uns 15 anos foi também, em paralelo com o trabalho no rádio e na TV, assessor de imprensa da Polícia Civil, um cargo comissionado. Ele diz a amigos que a melhor coisa que fez foi deixar a função pública e dedicar-se apenas ao jornalismo: “foi a partir daí que a minha carreira deslanchou”.

A decisão do Hélio, de aceitar a proposta da Record, provocou também uma mexida nos salários da sua equipe de produção. Sem o apresentador principal, o SBT fez um esforço para pelo menos manter a estrutura do programa. E assim, de uma hora para outra, salarinhos de R$ 1 mil, se tanto, transformaram-se em salariões de R$ 4 mil, o que, para o mercado jornalístico catarinense, é muita coisa.

O tempo dirá se ele fez um bom negócio, mas pelo menos conseguiu dar uma bela sacudida no mercado.

MALAS E VIAJANTES

COLEGUINHA – Como em tudo, não dá para generalizar nessa história de viagens com dinheiro público. Sempre tem umas malas que a gente não consegue entender por que foram e, ainda mais, por que voltaram. Mas tem gente que justifica sua presença, mostrando serviço. É o caso da repórter Adriana Baldissarelli, que apesar de trabalhar para uma organização comprometida até os ossos com o governo estadual e para veículos de comunicação que muitas vezes são mais governistas que o governo, tem feito um relato bem informativo da viagem. Coisa de profissional.

O material dela pode ser lido em www.centralcomunicacao.com.br, na coluna “Pelo Estado”.

Nota do editor distraído: o link para a coluna da Adriana, estava errado (tinha um "de" no meio – corrigi no domingo de manhã, avisado por um leitor) e levava para outra central de comunicação, em SP. Agora, aparentemente, está correto. Mil desculpas.

SEM ALÇA – Na outra viagem internacional que nós estamos pagando, cinco autoridades da área da segurança passeiam pela Colômbia. Foram o secretário da segurança, o comandante da PM, o chefe da polícia civil e alguns outros. Só que ninguém consegue explicar o que o prefeito de Palhoça, o REInério, está fazendo lá. Dizem que o Benedet, quando esteve em Palhoça, contou que iria à Colômbia e, meio de brincadeira, perguntou “queres ir?” Pois não é que o cara foi? Não é o governo que está pagando o passeio do mala, mas deve ser a prefeitura, porque ele nem se licenciou. Pode?

LACUNA – Agora só tem que ver se a ausência de toda a cúpula da segurança aumentou ou diminuiu a eficiência do trabalho policial...

CHORORÔ
O Lula transformou a posse dos três ministros (Justiça, Integração e Saúde), ontem, num ato de protesto contra o salário baixo dos ministros:
“Quando eu fico vendo os ministros, que ganhavam muito bem, virem ganhar 7, 8 mil reais, eu falo: esses são heróis. Alguns pagam para serem ministros, essa é a pura verdade”.
Então tá, né?

sexta-feira, 16 de março de 2007

Sexta

DE MÃO NO BOLSO
A “solenidade” de transmissão de cargo da presidência da Assembléia Legislativa, como se pode ver na foto acima, foi um ato protocolar presenciado apenas por quatro vetustos senhores (um deles está encoberto pelo Salvaro). O presidente Júlio Garcia, de mão no bolso, licencia-se por 10 dias e o deputado Clésio Salvaro, depois desse aperto de mão efusivo, assumiu o cargo.

Não pude deixar de notar que no anúncio da licença do Júlio Garcia, tinha uma frase redundante: “uma licença não remunerada por um período de 10 dias, sem nenhum ônus para a Casa”. Se não é remunerada, é sem ônus. E se é sem ônus, é não remunerada. Mas está bem explicadinho naturalmente porque ele não quer que digam que está indo à Espanha, incorporar-se à caravana LHS, às nossas custas.

TEST DRIVE
O novo presidente da Alesc, Clésio Salvaro, já no primeiro dia anunciou que adora licenças. Nos próximos meses predende se licenciar por uns 60 dias “para que meu suplente possa assumir e trabalhar pelo povo”. Ele acha que esse gentil troca-troca “é uma forma de valorizar aquele me ajudou na eleição”.

O que nos leva a uma perguntinha chata que não quer calar: então eles não se afastam porque têm alguma coisa importante a fazer ou alguma necessidade especial? É tudo combinado pra deixar os menos votados sentirem o gostinho? Uma espécie de “test-drive” das delícias e mordomias?

Como dizia aquele macaco antigo da televisão (que logo-logo poderá ser visto no You Tube): “não precisa explicar, eu só queria entender”.

FICA QUIETO, LHS!
Na pressa de mostrar bons resultados e que está sabendo das coisas, o LHS tem falado demais. Lembram que há pouco tempo saiu de uma reunião em Brasília falando que o BESC seria incorporado ao Banco do Brasil e provocou um bafafá federal? As ações do BESC subiram e alguém acabou ganhando muito dinheiro com a inconfidência do governador (e o governo federal ficou mais p da vida ainda, mas isso nem conta).

Pois agora na Alemanha ele saiu dizendo que a multinacional que tem uma unidade em Pomerode vai ampliar a fábrica e pronto. De um dia para outro o terreno que a empresa queria comprar subiu de preço astronomicamente. Mas é claro que, prestativos, LHS e o prefeito de Pomerode acalmaram os alemães: “o poder público vai desapropriar aquela área”. Ou seja, nós vamos pagar o terreno que, graças ao comentário do LHS, acaba de quase dobrar de preço.

Como todo colunista de opinião, que acha que sabe tudo e tem conserto para todos os problemas, a esta altura eu deveria dar um conselho qualquer ao governador. Mas não farei isso. Sua Excelência sabe muito bem o que faz e recuso-me a acreditar que tenha feito qualquer dessas coisas “sem querer”. Ou apenas por distração.

Gostaria, contudo, um dia, de conseguir entender qual a lógica que orienta os apressados passos do LHS.

JORNAL MENTIROSO

O deputado José Natal Pereira (PSDB) foi para a tribuna chorar as mágoas: seu ídolo Djalma Berger foi para o PSB e não o convidou, não o consultou, não deixou recado nem mandou uma cartinha. A certa altura, sem poder chamar seu preceptor político de mentiroso, o Zé Natal usou um artifício muito comum: “não é verdade o que diz o jornal, agradeço os elogios que recebi na matéria, mas não conversei com o deputado”.

Ou seja, fala a verdade o jornal quando reproduz os elogios de Berger, mas mente no resto. Porque o Djalma, é claro, mesmo tendo abandonado os antigos companheiros que migraram do PFL para o PSDB por causa dele, jamais mentiria.

Tem coisas, na política, que por mais que nos expliquem a gente custa pra entender. Vai ver que é isso mesmo, que é uma coisa misteriosa feita pra não ser compreendida.

ELLE ESTÁ DE VOLTA!
Nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio. E o melhor de se viver algumas décadas, é que a gente vê coisas que, se alguém tivesse contado, a gente não acreditaria.

Há 15 anos, se um maluco chegasse pra gente e dissesse que o Collor voltaria ao Senado e que, em seu primeiro discurso, de quase três horas, seria coberto de homenagens e gentilezas por gente de vários partidos, levaria um corridão.

Mas ontem, ao ouvir, e ver, o ex-presidente contando sua versão do processo de impeachment (que ele pronunciava realçando o t final, que eu sempre achei que era mudo), pensei, como minhas velhas tias: “eu morro e não vejo tudo”.

Ao tentar reconstruir a história a seu favor, Collor mentiu. Mas com enorme talento. Por alguns minutos, até cheguei a acreditar nelle.

MAIS UM MINISTRO-RÉU

O deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) que está para assumir o ministério da Agricultura, com a cândida desfaçatez com que os muito ricos e pouco cultos se expressam, admitiu que tem dívidas no Banco do Brasil, “mas quem não tem?”
Maior produtor de semente de soja do País, enorme produtor de grãos, eleito certamente mais por causa da fortuna que amealhou do que pelo prestígio popular, Balbinotti é réu em dois processos no Supremo Tribunal Federal, segundo informa o jornalista Josias de Souza, da Folha de S.Paulo.

Um deles questiona sua administração como prefeito. O segundo diz respeito às suas dívidas com o Banco do Brasil. O STF fala até em falsificação de documentos.

Além disso, certamente defenderá, no ministério, sua parte neste latifúndio. Afinal, suas ações em defesa dos grandes produtores de grãos serão literalmente em causa própria. Até para poder manter sua espetacular prosperidade, que lhe permite dois jatinhos, 12 mil hectares de terra e mais de uma centena de bens que, estima-se, possa valer por volta de R$ 120 milhões.

Pois bem, se ele, com tantos bens e tanto dinheiro, acha que não precisa quitar suas dívidas, já aviso e comunico ao banco onde tenho conta: “também vou dar um Balbinotti nas minhas dívidas”.