sábado, 31 de dezembro de 2005

FINAL DE 2005, DOMINGO E SEGUNDA

PREPAREM-SE!
Está para começar um ano completamente novo. Já não era sem tempo, mas em todo caso, sempre dá um frio na barriga saber que não sabemos nada que o novo ano trará.

Ou algum de vocês, em 31 de dezembro de 2004, imaginava o que iria acontecer em 2005?
E nem adianta os videntes e as bruxas dizerem que morrerá alguém famoso, que o Brasil deixará de ser o país do futuro ou que Sílvio Santos será presidente. A gente, que já viveu algumas décadas, sabe que não tem como saber o que vai acontecer.

A única coisa que a gente pode fazer, nessas últimas horas de 2005, é se preparar para o melhor. Porque para o pior estamos sempre preparados. Preparar-se, por exemplo, para votar em gente de bem, para mostrar, com o voto, que não estamos brincando.

O ANO JÁ COMEÇOU
O problema é que os partidos e as cúpulas partidárias já definiram quem serão os candidatos. Pode ainda haver algum acerto nos próximos meses, mas o básico está definido. E a gente não participou dessa montagem, porque nos ensinaram que o povo só participa votando nas eleições gerais.

Em muitos casos, pode ser tarde demais. Não adianta termos a melhor boa vontade para eleger gente honesta e capaz, se os candidatos que os partidos nos apresentam são umas bostas, uns bocas-moles falastrões, além dos nossos velhos conhecidos.

OTIMISMO E LUTA
Uma das correntes mais famosas da esquerda brasileira era a Liberdade e Luta (a Libelu). Tirante o que fizeram dela, o nome é muito bonito. Nada se conquista sem luta. Mesmo o otimismo que podemos ter para esperar o novo ano, precisa ser ajudado por uma disposição para ir à luta.

Querer ser feliz, levantar a cabeça, respirar fundo, tudo ajuda, mas é importante também lutar para que as coisas boas aconteçam, para que a gente consiga ter um ano bom, tranqüilo e produtivo.

UM ANO SEM MÁSCARAS
O ano que está acabando não foi tão ruim como pode parecer: graças a 2005, 2006 começa de cara limpa. Já sabemos que o poder corrompe, que mesmo aqueles políticos que pareciam alimentar-se da sua ideologia sabem perfeitamente como montar máquinas de alimentar o fisiologismo.

Estamos mais céticos e isso é bom. O ceticismo, na política e na vida, é uma forma madura de encarar os fatos. Sempre com os quatro pés atrás. Se partimos do princípio que estão sempre querendo bater nossa carteira, tomamos mais cuidado. E não nos decepcionamos tanto.

ESPECIAL: NA ESTRADA COM O TIO CESAR
A ARTE (OU A CIÊNCIA) DE VIAJAR SEM SE ESTRESSAR

Viajar é uma ciência (ou uma arte) que tanto serve para o bem quanto para o mal. Há queles que viajam com os olhos fechados e não conseguem ver graça em nada. Outros acham que a vida é um concurso de televisão e passam o tempo todo comparando o que vêem com o que tem em casa. Também não conseguem aproveitar direito.

Uma boa viagem, uma viagem inesquecível, exige uma grande dose de generosa curiosidade. E uma sincera disposição de aprender. Porque as viagens são aulas, onde aprendemos muita coisa, de uma forma dinâmica e divertida.

Ou chata e aborrecida. Só depende da forma como encaramos essas pequenas (ou grandes) aventuras. E da nossa capacidade de entender o que nos cerca.

É óbvio e lógico que os lugares que encontraremos para dormir não serão iguais ao nosso quarto e à nossa cama. Os barulhos que existirão ao redor serão naturalmente diferentes do que estamos habituados a ouvir. Então, a cada nova pousada, a cada novo hotel é preciso ter calma e paciência. Porque por mais luxuosas que sejam as instalações, sempre terá alguma coisa que nos incomode, que não seja bem do jeito a que estamos... acostumados.

Mas é justamente disso que as aventuras são feitas: novidades, quebra da nossa confortável normalidade. Então, relaxa e aproveita. E tenta aprender.

Tem gente que, quando viaja, fica morrendo de saudade da comidinha de casa. E procura feijão com arroz em todo lugar. Perde a oportunidade de saber que gosto tem um alfajor. Ou um chivito. Passa longe de uma parrilla. Nem pensa em comer húngaras.

Sem falar naqueles que torcem o nariz ao sair e só enxergam os defeitos: “olha aí, também tem mendigos, vi um mexendo no lixo, espia, quanto prédio velho abandonado, esses ônibus são muito antigos, se eu soubesse que era tudo tão caro não tinha vindo, o cara roubou no troco...”

Não sei vocês, mas eu continuo achando que, apesar dos pesares, viajar ainda é melhor que estudar nos livros ou ficar em salas de aula ouvindo alguém dizer que viajou mais que nós.

[As fotos abaixo são de Montevideo, capital do Uruguai.]
O viajante estressado diria “putz, que água fria, que mar sem graça”; e o bom viajante: “que areia limpinha, que praia organizada, que avenida larga”.

O estressado: “não tem milho verde no cachorro quente”.

O bom viajante: “interessante, as frutas ficam expostas e ninguém carrega”.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

SEXTA

RED STAR?
Mesmo longe sempre é bom dar uma olhada no que está acontecendo no mundo real. Leio na Folha que o Paulo Okamoto, amigão que paga as contas do Lula, fez “operações financeiras atípicas” de cerca de R$ 93 mil.

Nada disso me espanta mais. A única coisa que chamou a atenção foi saber o nome da empresa que produz brindes para o PT: “Red Star”(estrela vermelha). Okamoto era, claro, sócio da empresa, acumulando com uma diretoria do Sebrae.

Vejam só... dirigentes do partido dos trabalhadores, de origem socialista, nascido da luta legítima e secular do trabalho contra o capital, americanizaram a marca de seu fornecedor de brindes. Estrelinhas pra botar no peito? Agendas com palavras de ordem? Adesivos estrelados? Encomende à Red Star.

MEXERAM NO BOLSO
O PP entrou com uma ação contra a propaganda que o governo faz no Santa Catarina em Ação. Daí o governo, como retaliação, fechou o cofre e suspendeu toda a veiculação paga: deixou agências de propaganda, jornais, rádios e TVs a ver navios.

Pois a pressão está funcionando: todas as entidades que representam jornais, agências, rádio e TV foram reclamar com o PP. Dizem que a ação proposta pelos oposicionistas não está correta, choram e se lamentam.

Claro, tem jornais que estavam vivendo quase só das verbas oficiais, rádios estavam nadando no mar da prosperidade, televisões estavam adorando. É natural que tenham se rebelado contra a medida que, embora aparentemente saneadora, mexe com o principal órgão do corpo humano: o bolso.

SARNA MUNICIPAL
Dário Berger inicia uma “caça às bruxas” entre os servidores municipais, para “limpar” seu governo. Acho que, em vez de limpar, ele vai é arranjar sarna pra se coçar.

ORÇAMENTO ELEITORAL
Tá nos jornais: “o governo retirou R$ 2,1 bilhões do orçamento da saúde e praticamente acabou com a bolsa paga às crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) – ao sumir com R$ 946 milhões previstos para o programa – para inflar o Bolsa Família”.

Pois esse Bolsa Família é um programa assistencialista que dá dinheiro para os mais pobres, camada da população de onde Lula pretende obter os votos necessários para reeleger-se.

Com isso, a votação do orçamento empacou e eu decidi voltar às minhas férias de baixo custo e pouco gasto, em Montevideo.

ESPECIAL: NA ESTRADA COM O TIO CESAR

COMO CONHECER MONTEVIDEO POR R$ 3,20
Tem cidades como Nova Iorque, Montevideo, Vancouver, Porto Alegre e tantas outras, cujo sistema de transporte público funciona e onde se pode usar os ônibus comuns para conhecer a cidade.

Metrô é rápido, mas nada supera o ônibus se o negócio é ver como é que é a cidade. Ontem peguei um ônibus do centro até a praia de Pocitos, que é uma praia urbana, de areia muito limpa (vou mostrar aqui amanhã). Paguei mais ou menos R$ 1,60 (16 pesos uruguaios).

Dei uma volta por lá e daí peguei um ônibus até a Cidade Velha, que é perto do centro. Passapela Avenida Brasil, por várias outras vias importantes, pela Calle Colonia, pelo porto, dá a volta, vê-se o mar, entra nas ruelas da Cidade Velha. Um gande city tour por R$ 3,20.

Nas empresas de turismo um passeio de três horas pela cidade custa US$ 10 (mais ou menos R$ 23,00), o que também não é caro.

Em muitas ruas transversais do centro existem trailers de cachorro quente (pancho). O pão do pancho é um pouco menor que o utilizado no Brasil. E tem também a húngara, que é um tipo de pancho com uma lingüiça picante, fininha, que lembra a calabresa.

Tem lugares em que se pode comprar três panchos por R$ 1,50. Como no Brasil, se pedir mais coisas (eles colocam presunto e queijo dentro do pancho, por exemplo), o preço vai subindo.

Pra acompanhar a cerveja, a húngara é uma boa pedida.

O sanduíche nacional é o chivito, uma espécie de x-tudo: bife (lomo), alface, tomate, cebola, palmito, bacon (panceta), ovo, presunto (jamón) e queijo. Praticamente uma refeição, custa entre R$ 5,00 e 7,00 e tem em todo lugar.

Se quiseres, pra variar, comer num restaurante melhor um prato do dia, de carne ou peixe, com água mineral, café e sobremesa, vais gastar cerca de R$ 12,00.

Um garçon com quem conversei (e que já esteve em Florianópolis) contou que em Punta del Este, para agradar os brasileiros riquinhos que visitam o balneário, o dono de um bar fez um acordo com a Brahma e só servia cerveja brasileira. Não deu muito certo, o pessoal conhece a fama das cervejas uruguaias e queria experimentar as marcas locais.
Dizem os especialistas que estupidamente gelada as cervejas ficam todas iguais. Mas a uma temperatura um pouco maior só se consegue beber as melhores cervejas. Lembre-se: helado é sorvete. Cerveja gelada é cerveza fría.

No Uruguai as cervejas não vêm estupidamente geladas. Para ficar perto da temperatura a que estamos habituados, tem que pedir um balde de gelo. O chopp vem gelado, mas não demais.

Mas, como são muito boas (a Patrícia, a Norteña e a Pilsen são as mais populares), não tem grande problema. Dá pra beber bem.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

QUINTA

ESPECIAL: NA ESTRADA COM O TIO CESAR
É FOGO!
Os fraudadores do INSS estão dando pulinhos de alegria com o incêndio “acidental” que destruiu seus processos e o prefeito Dário quase rodou de ano: só conseguiu passar por alguns décimos (5,8 de aprovação). Diante disso, continuo a contar pra vocës como estão sendo minhas férias no estrangeiro.



O MERCADO DO PORTO

Visitar o Mercado del Puerto de Montevideo é importante para todo florianopolitano ou catarinense que passe por aqui: pra ver como se aproveita um Mercado e o transforma numa atração turística. Externamente, o nosso, de Florianópolis, é muito mais bonito e imponente. Dá de dez.


Mas dentro, quanta diferença. Restaurantes de todo tipo, com mesinhas e bancos no balcão, servindo parrilla, que é o churrasco uruguaio (pelo dobro do preço dos outros lugares no centro da cidade, fazer o quê, né?) e outros tipos de comida e todo tipo de bebida. As grelhas enormes, com o fogaréu sempre aceso, dão às bancas do Mercado um colorido especial.

E tá sempre cheio. Um agito só. Na véspera de Natal e de ano novo, as ruas ao redor ficam lotadas de jovens, que bebem cerveja no gargalo em garrafas de litro como se fossem long-necks.


PRIMEIROS SOCORROS

A primeira coisa que se deve aprender ao chegar a outro país é como se pede cerveja. No Uruguai o nosso chopp, de 300ml, se chama “liso” (pronuncia-se mais ou menos “lisso” e custa R$ 2,50). Se pedir “chopp” eles trazem uma caneca de meio litro (R$ 3,80).

A cerveja em garrafa normal é a de litro (960ml). A nossa, de 600ml e a long-neck, são coisas para amadores ou estrangeiros. No supermercado, o litro da cerveja custa uns R$ 3,10 e, no bar, entre R$ 7,00 e R$ 8,00.

A TERRA DO MATE
Se vocês acham esquisito aquela gauchada levando o chimarrão pra praia, então vão achar os uruguaios ainda piores. Eles caminham pela rua com a garrafa térmica debaixo do braço e, na mão, a cuia com o mate. A cuia que eles usam é mais redonda, menor que a dos gaúchos.

E em todo lugar tem os apetrechos pra vender. Nos cartazes oficiais do Ministério do Turismo, tem um sujeito sentado, vendo um belo por-do-sol, com a cuia e a garrafa térmica do lado.

Tem um ditado popular que diz que “el uruguayo trabaja la mitad porque siempre ten una mano ocupada com el mate” (o uruguaio trabalha a metade, porque sempre tem uma das mãos ocupadas com o mate).

Não sei se dei sorte, mas só tenho encontrado uruguaio gente boa: todos já foram ou gostariam muito de ir a Santa Catarina. E quem não foi tem algum parente ou conhecido que foi. Apesar do mate, são diferentes dos gaúchos: não contam vantagem.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

QUARTA

ESPECIAL: NA ESTRADA COM O TIO CESAR


Nesta semana vocês e eu estamos viajando, sem gastar muito, pelo Mercosul. A primeira parada será Montevideo, a bela capital uruguaia.

Saímos de Florianópolis no começo da tarde, num ônibus da Eucatur/Catarinense, daqueles de dois andares, que tem classe executiva em cima e leito embaixo. Chegamos em Porto Alegre às nove da noite, a tempo de pegar, uma hora depois, o ônibus da EGA para Montevideo e viajar a noite inteira.

RUMO AO ESTRANGEIRO

Teoricamente, basta a carteira de identidade para viajar para os países do Mercosul. Não é bem assim: a carteira de identidade precisa ser recente e não pode estar maltratada, desbeiçada ou com o plástico descolando. Outra opção é usar o passaporte, desde que ainda seja válido por um ano ou mais.

Portanto, antes de ir à rodoviária comprar a passagem, é preciso verificar as condições da sua carteira de identidade. Ou do passaporte.

Procure chegar no mínimo meia hora antes de embarcar no ônibus que vai fazer a travessia da fronteira, para dar tempo de cumprir a burocracia.

POR QUE O URUGUAI?
O Uruguai tem muitos pontos positivos, além da proximidade. O câmbio nos favorece, os preços são razoáveis, Montevideo é uma capital civilizada, com excelentes bares e restaurantes e os uruguaios são muito simpáticos e adoram Florianópolis e o Brasil.

Dez reais se transformam em cerca de cem pesos. Cem reais valem mil pesos (960, pra ser exato). A gente fica instantaneamente com a sensação de que está dez vezes mais rico.

Claro que, ao pagar, a gente nota que não é bem assim, mas não deixa de ser interessante ver o dinheiro da gente valer mais. As coisas custam, em média, um pouco mais barato que no Brasil.

O ÔNIBUS BARULHENTO
Marcopolo é um fabricante brasileiro de ônibus. Fez o ônibus excelente que nos trouxe até Porto Alegre. E fez também esse, da empresa uruguaia que vai nos conduzir durante a noite. São até do mesmo modelo.

Como não tenho muita experiëncia com ônibus rodoviário, achei que, pra passar a noite viajando, seria melhor pegar uma poltrona leito, no andar de baixo.

Afinal é maior, deita mais, tem menos gente, custa mais caro: deve ser melhor, certo? Errado!

Tinha um troço do ar condicionado, uma espécie de aspirador gigante, que fazia um barulho infernal e tornava a pequena sala com seis poltronas-leito, uma espécie de câmara de torturas.

Não adiantou a empresa servir lanchinho, aperitivo, sanduíches, bebidas (tinha uísque, vermute, vinho, refrigerante, mas nada de cerveja) e um café da manhã bem razoável: o barulho do ar condicionado deixou a cabeça zuniando o dia inteiro.

Vou escrever uma carta para o seu Marcopolo, que eu sei que mora em Caxias do Sul, reclamando das onze horas mais barulhentas dos últimos tempos.


ESSES ITALIANOS...
Um dos principais cartões postais de Montevideo é o Palácio Salvo. Hoje tem pouco de palácio, é apenas um edifício antigo, mas que ainda impressiona por suas linhas e seus quase 30 andares (na foto acima). Foi construído pela família Salvo, comerciantes de origem italiana, que chegaram ao país em 1860.

Começou a ser construído em 1923, com projeto do arquiteto milanês Mario Palati, que vivia em Buenos Aires, onde tinha construído o Palacio Bartolo, uma espécie de versão menor do que pretendia fazer em Montevideo.

Foi a primeira obra, no Uruguai, a utilizar o concreto armado e os operários, na sua maioria italianos, trouxeram novas técnicas de montar os andaimes.

Inicialmente o prédio teria dez andares e uma cúpula de quatro ou cinco andares. Só que ao chegar ao décimo andar, viram que os andaimes e a estrutura estavam tão firmes, que resolveram continuar: “o céu é o limite!”, pareciam dizer.

E os arquitetos foram desenhando os andares à medida em que o edifício ia subindo. Pararam quando chegou a 120 metros. Era o mais alto da América Latina e transformou-se num dos orgulhos dos urugaios.

O OUTRO URUGUAI
Soube ontem que o Cacau Menezes, colunista daquele jornal gaúcho que circula em Santa Catarina, está em Punta del Este, um balneário ao norte de Montevideo. Punta é uma espécie de Miami, de Jurerê Internacional, de praia para ricos e famosos se exibirem.
Não é uma boa amostra do Uruguai de verdade. Embora seja bonita, bem arrumada, bem cuidada. A gente vê Punta ao chegar (o ônibus passa por lá, perto das oito da manhã).


ESSES BRASILEIROS...
Um dos cafés mais famosos e antigos de Montevideo é o Sorocabana. O imponente prédio da foto acima é conhecido como Edificio Sorocabana porque ali, durante muitos anos, funcionou o Café. O edifício é de 1929 e na década de 30 Getúlio Vargas estimulou os produtores de café brasileiros a atuar com mais agressividade nos mercados internacionais.

Em torno do café brasileiro, o Sorocabana transformou-se num ambiente que reunia intelectuais e artistas de todo tipo, num dos mais oxigenados centros de debate e política de Montevideo.

O prédio fica na Plaza Cagancha, bem no centro, próximo à estátua da Liberdade, mas o café não existe mais.
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AMANHÃ: O MERCADO DO PORTO E A MANIA DE TOMAR CHIMARRÃO.

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

TERÇA

CONTAGEM REGRESSIVA

Pronto. Passado o Natal começa a preparação para o feriado seguinte, menos família, mas não menos complicado. O potencial de despertar a depressão que jaz adormecida embaixo de algum daqueles baús que temos no sótão é tão grande no reveióm quanto no Natal. As minhocas da alma agitam-se quando a gente pensa em ano novo, “fazer coisas que não fez, fazer melhor o que ficou mal feito, fazer de novo as coisas boas”.

E alguns de nós, como eu, tornam-se, no final do ano, chatos filosofais e começam compulsivamente a escrever como é que as coisas devem ser e de que forma tudo poderia acontecer para que, no fim, tudo acabe bem. E alguns de nós, como eu, sabemos exata e precisamente tudo de tudo.

Ora, não existem coisas absolutas e nada é nem o que parece. Ou nem isso. Muito pelo contrário. Somos todos os dias enganados a todo momento. O amarelo na TV ou na tela do computador é uma mentira. Peguem uma lente de aumento e vejam vocês mesmos e mesmas. São três luzinhas: a vermelha, a verde e a azul que acendem e apagam. Elas nos iludem fazendo-nos “ver” todas as cores (“16 milhões de cores”, falam os manuais).

No cinema, somos igualmente expostos ao ridículo, quando acreditamos que as pessoas se movem. Não existe movimento no cinema, são imagens paradas, projetadas uma depois da outra num ritmo hipnótico que nos faz acreditar que o Hugh Grant atravessou todas as estações do ano indo do início ao final da feira em Nothing Hill.

Nos jornais e revistas a empulhação continua. O verde é mentira. Peguem novamente a lupa: só existem pontinhos amarelos, cianos (um azul envergonhado), magentas (um vermelho enferrujado) e pretos. Eles se aproximam e afastam com o único propósito de deixar-nos, feito tolos, postados diante de uma página dupla da Playboy, acreditando que vimos todas as cores da amazônia. Aquele matagal a perder de vista...

Idiotas, todos nós, que achamos que sabemos tudo, que temos tantas certezas, que afirmamos com convicção porque estávamos lá e vimos. Tolos que se esquecem a todo momento de como os sentidos nos enganam, como os sentimentos enevoam os sentidos e como somos limitados para lidar com o mundo exterior.

Em 2006 eu queria, apenas, melhorar um pouco mais a minha percepção. E emocionar-me mais. Só. Ou não.

NA ESTRADA COM O TIO CESAR
Rumo Sul, na buraqueira da BR-101

Vocês estão convidados para me acompanhar nesta pequena aventura: fugir de Florianópolis nesta semana de festas. Para onde? ora, para o Uruguai e a Argentina, que devem ter menos uruguaios e argentinos que Canasvieiras. Vamos de ônibus, sem gastar muito.


A ESTRADA
Ao embarcar na rodoviária Rita Maria, leve seu próprio relógio. Todos os aeroportos, estações de trem, rodoviárias, colocam vários relógios à disposição do público, para que ninguém perca o horário. Menos a Rita Maria.

Os ônibus interestaduais são muito bons, melhoraram muito nos últimos anos, mas as estradas continuam as mesmas: buraco dentro de buraco.

Em todo o trecho ainda não duplicado da BR 101 a gente vê maiores ou menores indícios que estão começando a trabalhar na segunda pista. Algumas empreiteiras trabalham de verdade, outras parece que só estão fazendo de conta.


O OTIMISTA
Nas sete horas em que dura a viagem de Florianópolis a Porto Alegre (num direto-executivo, de dia), lá no andar de cima, dá pra ver a paisagem, assistir filmes e, no silêncio da cabine (o motor fica lá longe, perto do chão), se pode ouvir também a conversa dos vizinhos.

Um deles, daqueles que gostam de falar alto e bastante, nos permitiu ficar sabendo praticamente de toda a vida dele e da família.

E era um otimista: assim que sentou, na primeira fila, diante daquele janelão do segundo andar, já falou: “o pessoal desta fila é o primeiro a morrer numa batida, isso aqui é muito perigoso”.

E foi animando sua vizinha de poltrona: “eu prefiro o avião, porque pelo menos, quando tem um acidente, a gente não fica aleijado, morre tudo de uma vez”. E pra tudo ele só pensava o pior “parece que vai cair um temporal”.

Depois de três horas ele foi lá pra trás, começar de novo, com uma nova platéia, que ainda não sabia que ele odeia Porto Alegre, embora tenha nascido lá e que adora Florianópolis.

FREE-WAY
A estrada entre Osório e Porto Alegre (na foto acima) tem pedágio e é uma estrada-modelo há várias décadas. Três pistas pra lá e três pistas pra cá. Uma beleza, exceto pelo fato de que tem muito remendo mal feito no asfalto, principalmente na pista onde os caminhões e ônibus circulam. Pra mim, que esperava um tapete macio, depois da buraqueira, foi uma decepção. Quando a gente paga pedágio espera que pelo menos os remendos sejam bem feitos.

O pior é que os gaúchos têm razão, o por-do-sol em Porto Alegre é mesmo muito bonito.

AMANHÃ: O ÔNIBUS MAIS BARULHENTO DO MUNDO E, FINALMENTE, MONTEVIDEO.

sábado, 24 de dezembro de 2005

NATAL, DOMINGO E SEGUNDA

É HOJE!
Desde pequeno a gente, de tempos em tempos, acha que vai poder ignorar essas datas convencionais. O Natal geralmente aparece como o principal feriado a ser combatido, quando a gente está numa fase de combater feriados e a “comercialização e banalização dos sentimentos”. E tem épocas em que alguns de nós realmente conseguem passar pelo Natal como se passa por um outro dia qualquer. Afinal, a gente, durante a vida, faz tanta coisa, não é mesmo?

Quando chegam os filhos, a resistência amolece e a gente começa a reproduzir as informações culturais, criando nas crianças o sentimento de que hoje é um dia especial. Quem é cristão (e muitos que não são) conta a história do menino Deus. Quem não é religioso reforça o sentido familiar da festa. E os encontros são marcados para hoje.

Hoje é aquele dia, de todos no ano, em que esses laços familiares pesam. Se está tudo bem e se todos estão bem, pesam menos. Se falta alguém, se as brigas não se resolveram ainda, pesam mais. Mas eles estão ali, mais visíveis que nunca, estampados nas camisetas, tatuados nas nucas, pendurados nos narizes feito piercings não-metálicos: é uma data em que a gente vê os irmãos, sente a presença dos pais, procura pelos filhos, corre atrás dos netos. Mesmo que apenas em pensamento. Mesmo longe.

Não dá para fugir do Natal. Não dá para encarar o Natal como se fosse um dia qualquer. Nem sempre é bom, nem sempre é ruim. Mas não é um dia qualquer. Quanto mais longe do Natal, mais fácil teorizar sobre ele e seu significado. O problema para continuar escrevendo sobre isso, é que o Natal é hoje. A comida será especial, tem uma árvore esquisita na sala, as economias foram-se todas na compra de presentes, os filhos estão chegando, os pais virão em seguida, os irmãos já ligaram.

Não é, sem dúvida, um dia comum. Pode ser que seja divertido, pode ser que seja chato. Pode ser que os abraços encham o coração de alegria, pode ser que as mágoas encham os olhos de lágrimas. Mas, definitivamente, não será apenas mais um dia.

PRESENTINHO
Repercutiu nacionalmente a denúncia e a comprovação, feita pelo jornal A Notícia, dos “presentinhos” que um vereador joinvillense sem noção (Lauro Kalfels, do PSL) distribui para jornalistas e radialistas.

Que tenha político idiota o suficiente para achar que dar dinheiro para jornalistas seja “normal”, até dá pra aceitar. Afinal, eles vivem num mundo onde a corrupção é coisa mais ou menos comum e até tolerada (como a gente tem visto no Congresso Nacional).
O que dói na alma é ficar sabendo (de novo), que tem coleguinhas que não só embolsam dinheiro “doado” pelos políticos, mas ainda os achacam, pedindo uma “ajudinha”. Uma nojeira.

Nessas horas é que era bom ter um Conselho Federal de Jornalismo, pra poder tomar alguma providência e tentar sanear um pouco mais a profissão.

SER GREVISTA NA UFSC É MOLEZA
Acabada a greve na UFSC, recomeça a novela venezuelana que é o embate das “forças vivas” dentro daquela casa do saber.

Uns queriam suprimir o semestre, outros prolongar a folga, outros só queriam um pouco de atenção e no final choram todos, descontentes com tudo.

Os professores, que há muitos anos fazem greve sem perder um só dia de seus salários, vivem no melhor dos mundos. Se fossem empregados de qualquer outro patrão, teriam que colocar suas convicções à prova diante de cortes de salários e de pessoal.

Mas como somos nós que pagamos os salários deles, o governo age sempre com extrema generosidade. Não paga bem nem dá aumentos regulares, é verdade, mas também não força a barra nas greves e fica tudo por isso mesmo.

Em alguns casos mais graves, a carreira acadêmica é encarada mesmo como “eles fingem que me pagam e eu finjo que trabalho”. E dá-lhe férias de três meses e greves que são, pra todos os efeitos, mais meses de férias.

CALENDÁRIO MALUCO
Ficou assim: na UFSC o semestre 2005/2 termina dia 22 de abril de 2006. O semestre 2006/1 inicia em maio e termina em agosto. Já 2006/2 começa dia 11 de setembro, pára em dezembro para o vestibular e para as festas, recomeça em 29 de janeiro e termina em 2 de março de 2007.

Ou seja, a bagunça tem reflexos até 2007. O sujeito que não se preocupa em trabalhar e ganhar a vida até pode achar que tudo bem, mas aquele que precisa terminar logo seu curso pra tocar a vida, deve estar muito pê da vida com esse troço todo.

BANDEIRA ERRADA
Na entrada da Ilha, bem na cabeceira da ponte, tem um laguinho e três mastros com as bandeiras do Brasil, de Santa Catarina e de Florianópolis.

O colunista Gonzalo Pereira falou, há várias semanas, que a bandeira do estado estava errada. Depois, como ficou uns dias sem bandeira, eu achei que alguém tinha se tocado e iriam corrigir. Que nada: anteontem lá estava ela de novo. A bandeira errada, com o brasão fora de proporção, menor do que deveria ser. E parece que ninguém dá a mínima pra isso.

NA ESTRADA COM O TIO CESAR

Vamos fugir de Florianópolis?
A capital está começando a ficar cheia de turistas. Ótima oportunidade para sair. No exato momento em que vocês estão lendo estas linhas, estarei longe daqui. Não muito, porque parece que todo mundo teve a mesma idéia e a estrada está mais ou menos congestionada.

Mas, se tudo der certo, estarei quase em Porto Alegre ou até já a caminho de Montevideo. A idéia é ir para lugares que, nesta época, tenham menos gaúchos, uruguaios e argentinos que Florianópolis.

Gostaria de convidá-los para me acompanhar, nos próximos dias, nesta aventura. Sei que vocës preferem o avião, mas infelizmente o dinheiro só deu pra comprar passagem de ônibus. Por isso, se não se incomodarem com os sacolejos na buracaria da BR 101 (tá uma coisa de louco) e os cacarejos dos companheiros de viagem, conto com vocês nesta emocionante série de artigos especiais ilustrados com fotos exclusivas.

Já no começo da viagem descobri por que as obras de duplicação estão tão lentas: os caras estão trabalhando com pá. E ainda colocam um cartaz pra avisar que em vez de trator, usam pá. Pode?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

SEXTA

POLÊMICA NATALINA
O padre Márcio, aqui de Florianópolis, está indignado com o Shopping Beiramar, que baniu os símbolos cristãos da decoração natalina. Usaram ursinhos, pingüins, gatinhos e não deixaram nem uma estrela para lembrar que, antes de ser a festa dos comerciantes, o Natal deveria comemorar o nascimento de Cristo.

Na verdade, o padre está apenas percebendo uma tendência internacional. E da mesma forma que ele, em outros países grupos religiosos se movimentam para que o Natal (que em inglês tem Cristo – Christ – no nome: Christmas) volte a ser cristão.

Uma das coisas que o pessoal tem implicado, nos Estados Unidos, por exemplo, é que para não ofender clientes não cristãos, as lojas estão deixando de desejar “Merry Christmas” (Feliz Natal) e substituindo por “Happy Holidays” (algo como Feliz Feriado) em suas mensagens publicitárias.

A estrela-guia, os reis magos e o presépio, alguns dos símbolos mais fortes do significado cristão da festa, estão sendo deixados de lado.

SÍMBOLOS PAGÃOS
O Natal, em todo caso, desde suas origens, convive com essa polêmica sobre sua simbologia. Essa época de festas de dezembro antecede o nascimento de Cristo. Ligado ao solstício do inverno e ao festival do “sol invencível” romano, o feriado do dia 25 foi assumido pelos cristãos a partir do século quatro.

E a árvore de Natal, então? Não tem nada a ver com o cristianismo ou com Jesus. É um símbolo pagão dos festivais de inverno alemães.

CARAVELLAS À DERIVA
A Justiça Federal paralisou a construção do Residencial Caravellas no Pântano do Sul, na Ilha de Santa Catarina. A decisão suspende a licença da FATMA e o alvará municipal e fixa multa de R$ 200 mil para punir o descumprimento.

O condomínio está sendo construído sobre banhado, restinga litorânea e um ecossistema protegido por lei, porque associado à mata atlântica. Mesmo assim, o IBAMA, a FATMA e a prefeitura deram o OK.

A procuradora da República Analúcia Hartmann, diz que propôs a ação atendendo as queixas dos moradores da região. Segundo ela, o empreendedor, muito vivo, dividiu o loteamento em quatro para efeitos de licenciamento ambiental, mas na verdade se trata de um só e bem grande.

Não deixa de ser grave que os órgãos que deveriam cuidar do ambiente tenham suas licenças questionadas: significa, no mínimo, que não trabalharam direito. E, na pior das hipóteses, que atenderam interesses contrários àqueles que deveriam proteger.

BAÚ DO PAPAI NOEL
Um caminhão baú foi a condução que o Papai Noel municipal usou em Florianópolis para distribuir às crianças dos bairros mais pobres cerca de 31 mil brinquedos. Os presentes foram arrecadados na Casa do Papai Noel (na praça XV) e comprados com o dinheiro da venda de biscoitos na cozinha da Mamãe Noel (que fica, é claro, na casa do Papai Noel).

Já que o ano é eleitoral, a secretária-esposa-candidata Rose Berger ia à frente do caminhão, para dar a sua faturadinha.

FERIADÃO
Hoje os servidores públicos estaduais e de muitos municípios já estão de folga, para alegria dos comerciantes, que esperam que todo mundo vá torrar o 13º e se endividar nas últimas horas de lojas abertas.

Os servidores estaduais só voltam ao batente dia 3 do ano que vem. O que não é tanto tempo assim, também. Até parece que o pessoal que reclama dos tais “pontos facultativos” teria assuntos urgentíssimos para tratar nas repartições estaduais dia 27 ou 28.

MULHER NÃO TEM VEZ
O site Congresso em Foco fez uma extensa reportagem sobre a participação feminina no parlamento nacional. Dos 513 deputados, só 46 são mulheres e entre os 81 senadores há dez mulheres.
Além disso, elas ficam de fora dos melhores postos de decisão e liderança no legislativo.

A deputada Juíza Denise Frossard (PPS-RJ) afirma que aquilo é “uma casa de machos” e reclama: “eles nos ignoram e não nos chamam para os debates dos temas importantes”.
A discriminação começa bem antes, ainda nos diretórios municipais dos partidos, que só pensam nas mulheres como força auxiliar e como um traste que serve para cumprir a cota de 30% das candidaturas. Machistas e antiquadas, as estruturas partidárias chegam a achar que a mulher não tem “estrutura” para enfrentar uma campanha política.

“Imagina se é possível uma mulher casada ficar fora de casa, viajando, por várias semanas, no meio de homens”, comentou comigo um velho político, que não é homem o suficiente para permitir que eu o identifique. No fundo, o que parece, é que a homarada morre de medo que as mulheres, como está acontecendo na Suécia, tomem conta e mostrem que são melhor preparadas e tão competitivas quanto.
O endereço para ler a matéria é www.congressoemfoco.com.br.

MENSALEIROS
Já que estamos recomendando material de leitura na internet, para as horas calmas do final de semana, tem uma outra muito boa. É um artigo do Cláudio Weber Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, que combate a corrupção. Um trechinho:

“A turma está defecando no cérebro brasileiro coletivo. Esses mensaleiros vão a jantares, estouram garrafas de champanhe, articulam-se, continuam a negociar cargos mesmo depois de terem renunciado ou sido cassados”.

Para ler o artigo é só dar uma chegada ao Blog do Noblat (www.noblat.com.br) e abrir a seção artigos. E vá olhando pelo caminho, tem muita coisa boa por lá.

Tirem as crianças da sala:
não fazem mais papais noéis como antigamente...


CARTA-RESPOSTA DO PAPAI NOEL

Minha querida:

Recebi sua cartinha e fiquei muito feliz em saber que você, apesar de adulta, ainda acredita que eu possa lhe trazer um pouco de alegria. Às vezes fico um pouco cansado de ler cartas que só pedem riquezas e bens materiais. Mas a sua não, a sua é uma bela cartinha, cheia de esperança e muito generosa, ao pensar também em outras pessoas. Sinto que você é uma pessoa boa, que tem se portado bem e que por isso merece uma atenção especial.

A vida de Papai Noel não é fácil. Desde que Mamãe Noel resolveu repensar a relação e experimentar coisas novas cantarolando aquela música do Paulinho da Viola ("ao seu lado não me sinto muito criativa, tenho asas, meu amor, preciso abri-las"), as salas e quartos dos meus Palácios de Verão no Polo Norte e de Inverno no Polo Sul não foram mais as mesmas.

Aquele silêncio obsequioso que reinava, quando Mamãe Noel estava em casa, foi substituído por uma certa balbúrdia controlada, de jovens seminuas correndo para lá e pra cá, música alta e os elfos, meus ajudantes, meio confusos, sem saber se serviam a cerveja ou olhavam para a bunda das visitas.

Essa vida de amores inconstantes e muito esforço físico, como sabes, cansa. Estou precisando atracar minha velha lancha em um porto mais tranqüilo. Enquanto não encontro, só me resta procurar, no horizonte, algum sinal de terra firme. E a tua cartinha, minha querida, pode ter sido um desses sinais. Por isso apressei-me em respondê-la e ao mesmo tempo fazer um convite: por que a gente não se encontra pessoalmente para trocar uma idéia? Não seria legal?

A gente podia tomar um chá, uma coca light com limão ou um champagne, comer uns petit-fours, saborear uns queijinhos ou jantar à luz de velas.

E quem sabe neste Natal nós dois não teríamos nossos desejos realizados? Você ganhando casa, comida, roupa lavada, carro na garagem, jardineiro musculoso e dinheiro no banco, como estava na sua cartinha e eu ganhando o seu lindo coração, aliás muito bem protegido por esses simpáticos monumentos que aparecem na foto que estava no envelope. Que tal? Topas?

Beijos, Santa.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

QUINTA

LHS PREPARA O TROCO
Mesmo atingido por um golpe dado pelo PP e encaminhado pelo juiz Paludo, LHS não perde a pose. Ontem, em Matos Costa, no norte do estado, ele colocou seu chapéu de Indiana Jones e fez festa para inaugurar uma ponte que custou R$ 60 mil e entregar uma ambulância que custou R$ 70 mil.

Ao atravessar a ponte recém-inaugurada, nem viu (ou fez que não viu) que, às suas costas, as coisas estavam é pegando fogo.

Os advogados do escritório do deputado Blasi estão preparando a defesa para derrubar a liminar e devem dar entrada hoje.

LHS diz que não liga pro bloqueio dos bens “só tenho uma casa e não tou querendo vender” e que a propaganda oficial não é focada nele. Isso pode fazer com que a derrubada da liminar seja só uma questão de tempo.

Mas, quanto ao texto da ação, vai ter troco. O que deixou o governador muito mordido foram os termos desaforados e ofensivos com que o PP escreveu o troço. E que o juiz, na sentença, utilizou, ao citar alguns trechos.

LHS pretende acionar os deputados do PP pelo excesso de adjetivos ofensivos que enfeitaram o texto que eles assinaram. Diz que não vai fazer qualquer retaliação contra prefeitos do PP, mas que os deputados vão ter que se ver com os advogados dele.

A FONTE SECOU

O governo suspendeu toda a publicidade oficial até o começo de janeiro e ainda está pensando se volta a anunciar. Indiretamente, quer pressionar jornais e TVs a se posicionarem quanto à ação do PP. Como o DIARINHO não depende da grana oficial, pode assistir a essa briga de camarote.

DE OLHO NO CUn
O Conselho Universitário (CUn) da UFSC decide hoje como fica o calendário escolar depois da greve dos cem dias. Uma paralisação desse tamanho atrapalha a vida de milhares de estudantes e suas famílias, porque muda a data das férias, das formaturas e terá reflexos até o ano letivo de 2007.

CDL NA CONTRAMÃO
Em Criciúma uma rede de lojas achou que o movimento tava fraco e resolveu fazer uma liquidação. Os clientes adoraram. Mas o CDL de lá chiou. Decerto os nobres dirigente lojistas acham que a livre concorrência é uma bobagem e preferem agir como um cartel, ferrando os consumidores.

INTERROMPEMOS O SEU JORNAL PARA JOGAR CONVERSA FORA

Você está lendo um jornal, meu amigo, minha amiga, por motivos particulares. Eu não tenho nada com os seus motivos para ler jornal. Você fica sabendo do que aconteceu ontem no mundo, tem detalhes do que viu na televisão. Você sabe das coisas da sua cidade, como vai a administração, quais os buracos que estão abertos. Sabe quem morreu, dá palpites sobre quem matou, afinal, você está lendo jornal, em último caso, para se informar.

Agora eu gostaria de saber, sinceramente, por que você está lendo esta crônica? Aqui não há a notícia, a informação quentinha, a novidade. Aqui não há a fotografia que diz tanto. Aqui não estão os nomes dos conhecidos, envolvidos neste ou naquele fato. Há alguma razão para que as pessoas leiam crônicas? As pessoas lêem crônicas ou os cronistas apenas pensam que elas são lidas?

Mas antes que vocês respondam, acho que seria bom um de nós, que escrevemos, contar por que escrevemos crônicas. O que nos levaria a faIar com vocês utilizando-nos desta forma tão discutível de literatura?

“É FÁCIL”
Um dia parei perto de mim mesmo num canto escuro da rua e pensei que estava com muita vontade de fazer profissionalmente aquilo que sempre fiz: escrever. Mas eu disse para mim mesmo naquela mesma ocasião que há muitas maneiras de ganhar a vida honestamente escrevendo. Claro que nenhuma delas pode supor a expressão “ganhar a vida” como é entendida, geralmente. Quem escreve sabe que obter o mínimo necessário para sobreviver já é “ganhar a vida”.

Pois bem. Entre a poesia e o conto, meio enredada entre outros tantos gêneros literários, meio indefinida, estava lá, perdida, abandonada, a crônica. Aparentemente é facílimo escrever uma crônica. Mesmo quase diariamente ou ainda diariamente. Aparentemente é fácil escrever livremente, escolhendo os assuntos, descomprometido com rigorismos ou seriedades senis. Aparentemente é uma delícia escrever jovialmente, fazer piadas, divagar, pensar alto, enfim, cronicar.

“SÓ LOUCO”

No início é realmente fácil. Mas o tempo passa, a gente vai, encontrando esta, aquela, aquela outra, pessoas que leram crônicas que nós, tão despreocupadamente, escrevemos. Quando um leitor de crônicas é apresentado ao autor de crônicas geralmente leva um susto: “Mas é esse cara aí?” E naturalmente é um cara que o leitor encontrou na rua, no ônibus, na praia, um monte de vezes.

Só não sabia que na calada da noite o cara dá um grito, “Shazam”, e se transforma em mais um misterioso, monolítico e chato autor de crônicas. Na certa, pensa o leitor, o sujeito vara madrugadas pipoqueando numa máquina de escrever (computador é coisa para os jovens), sempre meio bêbado, completamente louco. Sim, porque tem que ser louco para escrever o que nós escrevemos e assinar em baixo (ou em cima).

Mas é claro que ninguém acredita de verdade nessas idéias. Exceto no fato de que a gente é, de fato, meio doido. E, quem sabe, até bem esquisito.

“QUE MEDO!”
Fazer jornal é uma loucura. Fazer literatura é outra loucura. A crônica, segundo entendo, não funciona fora do jornal e fora do seu tempo. Um livro de crônicas é apenas uma capela de velório, onde vamos prestar homenagem a ilustres crônicas mortas.

Um jornal é o retrato em corpo inteiro do momento e lá, a certa altura, um espaço se abre e uma pessoa descreve, com letras, palavras e sentimento, como está vivendo o mundo que o jornal mostra. Pode ser que não fale em coisas atuais, pode ser que não pareça com nenhum dos modelos de crônica dos livros de colégio. Mas o cronista tem por norma de serviço ouvir o mundo, e seus habitantes.

Pelos dedos sai então o desabafo, a respiração, a ternura, o ódio, o retrato da paz, o retrato da denúncia. Com maior ou menor força, dependendo dos medos do autor. Porque vamos falar sério: que medo as pessoas têm da verdade! Fecham os olhos para não vê-la, mas antes preferem calar a boca de quem a diz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

QUARTA

Aos 45 anos, a UFSC adota oficialmente o chimarrão


APAES NO FUNDO
O governador LHS (PMDB) sancionou ontem o projeto que o deputado Júlio Garcia (PFL), presidente da Assembléia, encaminhou com grande empenho.

Santa Catarina tem 185 Associações de Pais e Amigos dos Excep-cionais, que atendem cerca de 15 mil pessoas. E a partir de agora essas entidades receberão 1% de tudo o que o Fundo Social arrecadar.

À parte o legítimo direito das Apaes a um apoio estatal, essa Lei adiciona, às discussões sobre a legalidade do Fundo e à própria CPI, um componente emocional: como ser contra um Fundo que beneficia as Apaes?

LHS TÁ COM O PALUDO ATRAVESSADO
A decisão do juiz Domingos Paludo, da Vara da Fazenda Pública, proibindo a veiculação da campanha Santa Catarina em Ação caiu como uma bomba sobre o Centro Administrativo. O juiz, ainda por cima, bloqueou os bens do governador LHS, do secretário da Comunicação e do publicitário Wilfredo Gomes.

Na verdade estamos assistindo a uma espécie de trailer do que será a batalha eleitoral. Este foi um cruzado de direita que o PP acertou. O governo vai tentar derrubar a liminar e revidar o golpe.

CALENDÁRIO MALUCO
Com a maior naturalidade, algumas dezenas de professores da UFSC decidiram “desvincular o calendário letivo do ano gregoriano”. Ou seja, esse calendário que o resto do mundo adota, com 12 meses, iniciando em janeiro e terminando em dezembro, já não serve mais pros ex-grevistas. Até atrapalha.

Pra facilitar, então, eles vão tocando as aulas e, quando terminar, acabou. Daí tiram uns dias de fé-rias e continuam. Sem ligar se é agosto, maio, novembro ou março. E sem se preocupar se é 2006 ou 2007. Os estudantes, que vêem seus prazos irem pro espaço, até agora não chiaram.

TUDO É FESTA
Ano eleitoral é fogo. O prefeito de Palhoça, Ronério H. (PMDB), foi entregar para uma empreiteira a ordem de serviço de pavimentação de menos de 10 km de estrada (entre as praias da Pinheira e do Sonho). Aparentemente nada de muito extraordinário.

Pois o troço virou festa e comício, como se a obra já estivesse pronta e acabada. A quantidade de político que apareceu pra tirar uma casquinha da “reivindicação antiga atendida” foi uma grandeza.

Estavam lá o vice-governador Pinho Moreira, o ex-governador Paulo Afonso, os deputados Edison Andrino e João Henrique Blasi, o secretário regional Galina e naturalmente o pessoal local, vereadores à frente. Teve palanque e faixa agradecendo “o compromisso cumprido”. Isso que ainda não tinha começado o serviço.

Não foram confirmados os eventos para comemorar a primeira pá de asfalto e a primeira caçamba atolada, mas a inauguração (depois de terminada a obra) vai ter uns três dias de festa e discursos.

CONCHAVO DIGITAL
O governo Lula está dançando de rostinho colado com as grandes redes de TV: prometeu financiamento do BNDES, a juros baixos, para que eles comprem o equipamento para adaptar-se ao sistema de TV digital. E também está fazendo o jogo de interesses poderosos na escolha do sistema que o Brasil vai adotar. Lulinha é fogo!

PARA BOM ENTENDEDOR...
Publiquei a crônica abaixo, pela primeira vez, em 8 de dezembro de 1972 – há 33 anos! – no jornal O Estado, de Florianópolis, SC. Como o Natal é o mesmo todo ano, de vez em quando, como agora, republico pra ajudar a avivar a lembrança do que esta data significa.

NOITE FELIZ

Pela calçada meio esburacada, lentos como a folha de jornal que caía de um viaduto, vinha um casal de caipiras. Seis horas da manhã e os caminhões já passavam enormes, levando tudo o que o dinheiro pudesse comprar. O pó que os pés dos recém-chegados à cidade grande levantava não era tanto quanto o pó armazenado nas suas roupas. A cadência quase morta com que o casal andava era a evidência de que aquela seis horas não os apanhara bem dormidos e descansados. Ela estava grávida, mas andava leve, embora com passos meio lerdos. Seus olhos não pareciam pertencer àquele corpo nem àquele homem. Ele não deveria ter sensibilidade para entender a doçura daquele olhar de mulher bonita.

Pararam em um boteco. Pediram duas médias com leite. Ela cavocou numa sacola e catou dois pedaços de pão caseiro. Uma vez na cidade, a luta seria pela pousada. E se fosse só ele, qualquer canto servia. E ela neste estado. Se ao menos ele tivesse recebido o dinheiro daquelas mesas... Ele era carpinteiro. Muito procurado no lugarejo onde morava. Mas tudo gente pobre, o ganho era pouco. Agora, as mesas tinham sido encomendadas para a casa de praia de um madereiro. Gente de posses.

O dia inteiro, fugindo do sol de dezembro sob as marquises, eles procuraram onde ficar até “amanhã”. Para eles a cidade não teve portas nem janelas. Só paredes. Já anoitecia, os carros paravam para que embarcassem moças de vestido muito curto. De tarde tinham visto uma oficina abandonada. Voltaram. O assento traseiro de um Buick estava lá, jogado, e serviu de cama para ela, de olhar doce. Ele, homem, ficou em qualquer canto. Olhando o nada e esperando as seis horas pra pegar a fila. Uma das filas. Não se falaram, apenas trocaram pensamentos ternos.

De repente, um clarão iluminou tudo. Ele pulou em pé. Os vizinhos, que estavam na janela com insônia, telefonaram para os bombeiros. Ela, com o suor brilhando no rosto, acabara de ter seu filho. A oficina velha continuava clara, mas ele não ligava, só se preocupava em acomodar a criança, desajeitado, sem saber o que fazer exatamente. Chegaram os bombeiros, esperando, no mínimo, fogo e destruição. Encontraram uma nova vida, mais uma vida. Ninguém achou ruim o alarme falso.

Os vizinhos curiosos que entraram junto com os bombeiros, providenciaram roupinhas e assistiram à primeira alimentação do neném. O tumulto não houve. Assim como se existisse paz e boa vontade.

Um dia, lendo o jornal, o homem que chamou os bombeiros soube da morte de um indivíduo cujo nome – esquisito – era igual ao dado pela mãe àquela criança nascida na oficinal velha (hoje existe um edifício de apartamentos no lugar). Ele foi morto pelas suas idéias, leu, ele pregava um reino de amor, uma utopia possível, a vida plena, sem escravizações.

O homem, agora velho, recostou a cabeça, pensou naquela noite. Lembrou e gostou das lembranças.

Reuniu seus filhos e netos à meia-noite numa ceia e todos ouviram o velho homem contar, entre lágrimas, o que havia sido aquela Noite Feliz.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

TERÇA

SEMPRE DÁ PRA OLHAR PRO CÉU
Não tem aquela lua cheia da semana passada? Pois é, é ela que taí, nessa foto, que eu tirei no sul da Ilha, na altura do Campeche. Não é à toa que todo mundo quer vir morar em Florianópolis. Aqui, quando a coisa aperta, é só encontrar um lugarzinho onde dê pra ver o mar, que os problemas vão sendo levados pelo vento. De dia sempre tem alguma paisagem (ou restinho dela, no meio dos prédios) e de noite, quando a lua nasce, a gente olha pro céu e sente que nem tudo está perdido. A lua, quando nasce no mar, enorme e colorida, ilumina a alma de quem tem tempo pra desligar a TV, apagar a luz e ir pra janela, pra rua, pra praia, renovar as energias. E nesta semana que marca o começo da correria de Natal e da mudança de ano, não custa lembrar que, por pior que tudo pareça, sempre dá pra olhar pro céu. Vai que tem uma lua, uma estrela, uma nuvem passageira...

A ZONA... AZUL
O jornalista Alexandre Gonçalves viveu uma situação bem típica de final de ano e da falta de consideração dos concessionários de serviços públicos para conosco, que pagamos seus salários e sustentamos seus empregos.

Ele conta, no seu site Coluna Extra, que estacionou o carro no centro de Florianópolis e não achou nenhum vendedor da Zona Azul (aquele troço que cobra pra gente estacionar em local público). Ligou pra lá e teve que ouvir: “é que nós estamos fazendo uma festinha, daqui a pouco o pessoal vai voltar pras ruas”.

O jeito foi quase atravessar a cidade pra encontrar um buteco que vendesse o cartão. Porque eles estão na festinha de final de ano, mas se deixar o carro sem o cartão é multa na certa.

O NOVO GOVERNADOR
Ontem fiz um teste, pra ver se alguém sabia como era, quando jovem, o desembargador Jorge Mussi, que será governador por uns dias, agora em janeiro.

Se eu tivesse algum prêmio para distribuir, o ganhador seria o Allan Pyetro, de Palhoça, colunista do jornal “O Caranguejo”, que foi o primeiro a dizer que o presidente do Tribunal de Justiça, em 1969 tinha essa cara aí. Não era um teste difícil. Apesar dele ter perdido alguns cabelos ao longo dos anos.

A propósito, já tem gente falando que o LHS está fazendo esse agradinho para que os desembargadores peguem leve quando aparecer algum processo dele por lá.

SÓ NA MARRA
Por falar em Tribunal de Justiça, ontem foi mantida a obrigação de ter mais delegados, escrivães e investigadores na delegacia que cuida dos menores.

O governo LHS, que fala tanto em segurança e o Benedet, que gosta tanto de entregar viaturas nos municípios da base eleitoral, estão, segundo o Ministério Público, com a bunda de fora: pelo menos 146 mandados de busca e apreensão de adolescentes deixaram de ser cumpridos por “falta de pessoal”.

Teve adolescente preso com grande quantidade de droga que acabou sendo liberado sem que sequer fosse feito o auto de prisão em flagrante.

Tão rápidos pra fazer discurso e tirar fotografia, o LHS e o Benedet agora terão que se agilizar para atender à determinação judicial (isso se não entrarem com recurso pra que a bandidagem continue na boa vida).

TROLHA ÚNICA
A prefeitura de Florianópolis anunciou que vai adotar, a partir de janeiro, a tarifa única, no transporte coletivo. Claro que não vai dar certo. O Sindicato das Empresas de Ônibus já está dando a letra: “o valor da tarifa única precisa ser de R$ 2,42”.

Hoje a tarifa mais cara dos ônibus urbanos é R$ 2,75. Baixa um pouquinho nessa, mas carca a mão nas outras tarifas mais baratas. Na média, todo mundo se ferra, mas as empresas, como ele disse, saem do déficit.

Vamos ver se como é que o Dário vai administrar essa engronha.

PAPAI NOEL EXISTE?
Acho que esta semana é apropriada para que a gente discuta essa questão fundamental para a humanidade.

Sempre digo que não se deve acreditar em tudo o que tem na Internet, muito menos naquilo que os “amigos” enviam por e-mail. Mas ontem chegou-me às mãos um texto que comprova científicamente por que o Papai Noel não existe. E eu não resisto em compartilhá-lo com vocês. Há quem diga que a autora se chama Martha Medeiros, mas, na Internet, a gente nunca sabe o que é verdade e o que é inventado.

PAPAI? INVIÁVEL!
Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias?

Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor? Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho?

Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag? Que pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas?

Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani!


MAMÃE? É CLARO!
Mamãe Noel, sim, existe.

Quem é a melhor amiga do Molocoton, quem sabe a diferença entre a Mulan e a Esmeralda, quem conhece o nome de todas as Chiquititas, quem merecia ser sócia-majoritária da loja de brinquedos? Não é o bom velhinho.

Quem coloca guirlandas nas portas, velas perfumadas nos castiçais, arranjos e flores vermelhas pela casa? Quem monta a árvore de Natal, harmonizando bolas, anjos, fitas e luzinhas, e deixando tudo combinando com o sofá e os tapetes? E quem desmonta essa parafernália toda no dia 6 de janeiro?


TUDO ELA!
Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis. Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe? Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista? Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel? Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas. Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos, bem acomodado em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo porque comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais.

FELIZ NATAL! (de uma mamãe Noel que ama Papai Noel, mas quer que justiça seja feita...)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

SEGUNDA

GOVERNAR É...
O candidato a governador do PMDB, o já governador LHS, tem viajado pelo estado atendendo aos principais compromissos de campanha: abraçar, cumprimentar e beijar eleitores, filhos de eleitores, mães de eleitores, companheiros, qualquer um que apareça pela frente. Já diz o ditado que “quem beija meus filhos, minha boca adoça”. Por isso, é preciso ter atenção especial com as crianças. Claro, tudo devidamente documentado pelos fotógrafos da Secretaria de Comunicação, que está aí justamente para comunicar, aos intrigantes da oposição e aos eleitores em geral, como é que se governa em ano pré-eleitoral.

OUT-DOORS DE NATAL
Em vários locais, em muitas cidades, apareceram out-doors com mensagens de vereadores, senadores, deputados. O Senador Pavan, que está de molho curando uma pneumonia, mostra sua fachada de ator italiano para desejar boas festas, principalmente na região de Balneário Camboriú.

O deputado Paulo Bauer também se arrisca num cartaz, que vi na entrada de Florianópolis. A senadora Ideli, que ainda está às voltas com aqueles outros cartazes, por enquanto não deu as caras ou pelo menos não vi.

O mais direto e objetivo, sem dúvida nenhuma, é o do secretário/vereador Gean Loureiro (PSDB). Decerto ele cansou de mensagenzinhas água com açúcar e resolveu ir direto ao assunto. O out-door é simples. Tem a foto dele e, bem grande: “Desejo votos”. Lá embaixo, pequenininho que quase nem dá pra ler direito (vai ver preciso trocar os óculos) tem “de boas festas e feliz natal” ou coisa parecida.

É isso que todos eles querem com essas “gentilezas”: nossos votos. Pelo menos o vereador teve coragem de admitir. Resta saber o que o TRE vai pensar desse apelo tão sincero e claro fora do período de campanha.

A GREVE DOS 100 DIAS
Termina hoje a greve dos professores da UFSC. Segundo o site de notícias Universidade Aberta, esta foi a maior paralisação da história de greves da UFSC, com cerca de 109 dias. Mas ainda não se sabe direito como será a retomada das aulas.

O Conselho Universitário deve definir, esta semana, o novo calendário. Se depender dos grevistas as aulas devem reiniciar no final de janeiro ou em fevereiro.

Quando a gente ouve alguns dirigentes da associação de professores falar sobre a retomada das aulas, fica com a impressão que os alunos não têm muito direito de reclamar. Como se os prejuízos dos estudantes fossem coisa pouca, diante da “grandeza” da luta que eles empreendem pelo bem estar de todos e pela qualidade do ensino nacional.

NEO-PORCALHÕES
Em Florianópolis vários muros e paredes brancas apareceram pichados com bobagens do tipo “o comunismo é a juventude do mundo” e outras frases típicas das décadas de 60 e 70. Lá no meio, chamam o LHS de nazista. Mas o principal é a sujeira que fazem e a antigüidade dos slogans.

Pela tibieza do traço, inanição das palavras de ordem e falta de perspectiva histórica, os neo-porcalhões devem ser muito jovens, com idéias muito velhas. E provavelmente não têm a menor idéia do que significa, na prática, viver sob um regime comunista.

TURISMÓLOGO VETADO
O governo vetou o projeto que regulamentava a profissão de turismólogo, deixando um monte de gente pendurada no pincel.

Eu vetaria o nome, que acho horroroso, mas parece que não foi esse o motivo: o governo que autoriza abrir escolas de turismo, que quer aumentar o fluxo turístico, acha que não é preciso regulamentar a atividade. Deu lá umas desculpas esfarrapadas e, ao assinar o veto, deu novo tiro no pé.

Ninguém entendeu e ninguém se conforma, porque se tem um troço que o Brasil teria que cuidar direito e com grande profissionalismo é do turismo. Temos tudo para ser um dos maiores destinos turísticos do mundo. Mas tem faltado seriedade ao tratar do assunto.

PROSSEGUE A FRITURA
Na posse do novo secretário de turismo de Florianópolis, Mário cavalazzi, o repórter da CBN perguntou para o prefeito, com a maior naturalidade, como se fosse coisa decidida: “e a troca do secretário da saúde e do diretor do Ipuf, quando será?”

Dário deu uma resposta completamente dúbia, sem confirmar nem desmentir. Se não vai mexer, por que não dizer, para desmanchar a onda de boatos? E se vai, por que não fala claramente onde estão os problemas e resolve a coisa logo?

Se o objetivo é mesmo só queimar uma corrente do PSDB (Marcos Vieira e Dr. Juca) e incomodar o PMDB (o presidente do Ipuf é presidente do partido na capital), a estratégia está completamente errada: o único resultado concreto, até agora, é que o prefeito está construindo uma fama de indeciso, incapaz de resolver a composição do colegiado. E com isso se afasta de aliados que foram importantes na sua eleição.

ABRE O OLHO
A quadrilha que foi presa semana passada em Florianópolis e que aplicava golpes em cartões de crédito, contou que para completar dados pessoais que faltavam na montagem dos cartões clonados e das identidades falsas, ligavam para a casa das vítimas e pediam número da identidade, do cpf e outros dados. Os otários que atendiam o telefone davam os números, porque acreditavam no papo da quadrilha: “aqui é da Tim, vocês ganharam um brinde num sorteio e para receber basta confirmar alguns dados”.

Tem gente que cai nesses papos tanto por telefone quanto na internet. Abre o olho: não dá informação a qualquer um. Depois não adianta chorar e se lamentar.

MEU AMIGO GOVERNADOR
Qual dos três guris que aparecem nessa foto aí, de 1969, tirada no Colégio Catarinense, será governador de Santa Catarina, agora em janeiro, por alguns dias?

Quem enviar a resposta correta para o e-mail da coluna não vai ganhar nada, porque ainda não temos patrocinadores, mas pelo menos poderá ter seu nome citado aqui entre aqueles que conheceram o governador quando jovem.

Dica: para que ele seja governador, o LHS, o Moreira e o Júlio Garcia terão que tirar férias ou arranjar viagens pra bem longe.

[achou a foto pequena? clica nela que se abre uma ampliação.
Isso vale pra todas as fotos deste blogue]

sábado, 17 de dezembro de 2005

SÁBADO E DOMINGO

UMA LINDA BORDA DE PIZZAS,
EM HOMENAGEM AO CONGRESSO


Neste final de semana não quero incomodar vocês, queridas leitoras e estimados leitores, com informações chatas que só dão raiva, incomodam e azedam o bom humor. Por isso, tratei de recolher algumas lindas pizzas de todos os sabores e tipos, para uma homenagem singela, porém sincera, aos nossos representantes na Câmara dos Deputados e no Senado da República.

Durante todo o ano eles se esforçaram para demonstrar basicamente três coisas:

1. Que trabalham bastante;
2. Que são honestos; e
3. Que, quando um deles erra, acaba sendo punido.

EM RECUPERAÇÃO
Parece que não tiveram muito sucesso em um ou dois ítens de sua proposta. Tanto que, da mesma forma que estudantes com problemas entram em recuperação e têm que fazer segunda época ou exames adicionais, os congressistas estão em recuperação.

Vão trabalhar nas férias, para tentar comprovar aquilo que não conseguiram no período normal de aulas, digo, de sessões.

FINAL FELIZ
Não sou daqueles que acha que todo político é “poblemático”. E espero que os leitores e leitoras do Diarinho também saibam que tem uns melhores e outros piores.

Da mesma forma, embora tudo indique que vai ser assim, prefiro continuar acreditando que a parte boa do Congresso não vai deixar que tudo acabe em pizza.

E para que tenhamos um final feliz não basta cassar mandatos, coisa que às vezes, de certa forma, até beneficia o sujeito. É preciso que todos, nós e eles, a gente e vocês, mudemos de atitude e passemos a respeitar um pouco mais (ou muito mais) o dinheiro público e a vontade popular.

O sujeito eleito para nos representar tem que se sentir pressionado: não pode nem mais ir ao banheiro do jeito que ia antes. Agora ele é nosso representante. E tem que andar na linha. Lavar as mãos antes e depois. Cumprir a lei. Mesmo que os outros não cumpram.

E a gente tem que ter vergonha na cara pra nunca mais votar em quem não nos representa direito.

TURNO ÚNICO
A prefeitura de Florianópolis aderiu ao tal “horário de verão” e vai fazer turno único, das 13 às 19h, tal e qual o governo estadual já faz (e outras prefeituras também).

De novo, como no caso das folgas e pontos facultativos, caem de pau como se ficar na repartição das 8 às 18h fosse fazer a malandragem trabalhar mais. Quem não leva o serviço público a sério, até gosta de dois turnos, porque tem mais tempo pra vender Natura, trocar uma idéia com os colega e dar um rolê pelo centro da cidade.

E quem trabalha consegue se organizar no turno único e ganha, como um presente justo, mais tempo para ficar com a família e para tratar de sua vida.

CHEFIAS MOLENGAS
Insisto que o problema do funcionalismo público são as chefias frouxas e incompetentes, que não sabem gerenciar, não têm noção do que devem fazer e só pensam em agradar seus padrinhos políticos. Se o nível gerencial e de direção fosse profissional e competente, entrava todo mundo nos eixos e ninguém acharia ruim uns dias de folga no final de ano ou duas horinhas a menos de trabalho.

MATEMÁTICA BÁSICA
Não acho que o turno único signifique menos tempo de trabalho. Querem ver?

No turno integral o servidor, teoricamente, trabalha das oito ao meio-dia e depois das duas às seis. Mas o que acontece é que ele chega 8:30 porque o trânsito a essa hora é horrível e antes teve que deixar as crianças na escola.

Como vai ficar o dia inteiro na repartição, antes de começar a trabalhar tem que dar uma circulada, pegar o café e achar o jornal. Depois tem que ligar o computador, esperar o sistema entrar, colocar a senha e aquelas coisas todas muito demoradas. Às 9:30 o trabalho começa.

Se sair só ao meio-dia, o sujeito já não pega mais lugar no quilinho pra almoçar ou então enfrenta uma fila enorme. Tem que sair um pouquinho antes: 11:45 no máximo.
A hora do almoço é a única que sobra para ir ao banco e outros compromissos, que sempre demoram muito. Às 14:30 o trabalho reinicia. E com esse trânsito não dá pra sair às seis: 17:45 no máximo.

Somou? Nosso amigo trabalhou, de fato, 5h30min. Menos que as 6h do turno único.

MAIS BADERNA

Os vereadores de Florianópolis e a prefeitura como um todo terão que mudar sua forma de atuar e de se comunicar com a população, se não quiserem ficar reféns de grupos de pressão.

Na sessão da Câmara que aprovou o orçamento, os baderneiros do passe livre (aqueles que querem que o operário pobre pague passagem de ônibus e os estudantes riquinhos não) estavam lá, fazendo sua festa.

Acostumados a conversar apenas na surdina e em ambientes fechados e sigilosos com lobistas e empresários da construção civil e do transporte, os vereadores precisam encontrar uma forma de dialogar às claras com a gurizada, com os usuários do transporte, enfim com todos os segmentos até agora excluídos, para que a cidade não vire uma praça de guerra.

POLÍTICA ENVELHECIDA
A impressão que se tem, olhando aqui de fora, é que os políticos não sabem fazer aquilo que se propuseram a fazer. Política é uma arte que exige talento, inteligência, dedicação e sensibilidade. E muitos dos vereadores, prefeitos, secretários, deputados e quetais que a gente vê falar e atuar, parecem viver em outro mundo ou pelo menos em outra época.

Os conchavos a boca pequena, as negociações secretas, os ajustes por baixo dos panos precisam urgentemente ser substituídos por acordos coletivos, discussões públicas, negociações claras em torno de propostas expostas sobre as mesas e nas tribunas.

CONVIVÊNCIA CORDIAL
Forçosamente, à medida em que as coisas vão sendo discutidas, alguns grupos terão que ceder, outros serão derrotados e não devem, nem podem, recorrer à violência ou à força para fazer valer seus pontos de vista.

Se o jogo for jogado sem patifarias e “jeitinhos”, fica mais fácil exigir respeito às regras do jogo. Enquanto vivermos numa democracia e este for o regime que escolhemos para nosso governo, será preciso conquistar o apoio da maioria no gogó, no confronto de idéias e de projetos.

Quando mudarmos para a anarquia e extingüirmos todo tipo de governo, a conversa será outra. Mas até lá, não dá para tolerar quem não saiba ter, em sociedade, uma convivência cordial.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

SEXTA

O governo inaugurou a decoração natalina no Centro Administrativo.
E eu fiz alguns retoques na placa.

QUEM TEM MEDO DO DR. JUCA?
O médico Walter da Luz (também conhecido como Juca) foi o vereador mais votado da capital (PSDB). E o prefeito Dário o colocou na Secretaria de Saúde. Pois de um tempo pra cá não passa um dia sem que saia, nos jornais, aqui e ali, alguma nota dizendo que o Dr. Juca vai ser substituído, que não está agradando, essas coisas.
Ontem ouvi dele uma explicação para tanta fritura e pressão: “os incomodados têm medo dos meus 7 mil votos, acham que poderei ser uma ameaça aos planos futuros de quem pretende concorrer a deputado ou prefeito e querem me prejudicar”.

Do prefeito Dário, Walter diz que não ouviu nenhuma informação sobre eventual modificação na Secretaria. “Fui eleito vereador e não pretendo me apegar ao cargo, que pertence ao prefeito. Assim que ele disser qualquer coisa eu saio imediatamente”, afirma.

Na foto abaixo, o Dr. Juca desata a fita na inauguração do posto de saúde da Coloninha, ao lado do prefeito. Pena que este jornal não seja a cores, senão vocês veriam que a fita é amarela e azul, as cores do PSDB (no blog, é claro, dá pra ver esse detalhe).

A GREVE SEM FIM
Hoje cedo (9h) os professores da UFSC realizam asssembléia para dizer se aceitam ou não a proposta do comando nacional, de voltar ao trabalho segunda, dia 19.

Como sempre, entre mortos e feridos, os estudantes só perdem, porque não terão acesso aos eventuais ganhos salariais e terão que enfrentar mestres apressados, loucos para terminar logo o semestre.

PARENTES DO VIEIRÃO
O deputado Antonio Carlos Vieira (Vieirão, PP) fez na tribuna da Assembléia uma eloqüente defesa do direito dos deputados de terem seus parentes contratados para funções de confiança no Executivo e no Judiciário. Diz ele que se não encontrar colocação para seus filhos na área pública, que é onde ele transita, vai encontrar onde? Claro, com a ressalva de que são parentes que trabalham e com a devida competência.

A argumentação pelo jeito agradou à maioria dos deputados, que derrubou o projeto que limitava a contratação de parentes dos deputados estaduais por autoridades do Executivo e do Judiciário.

[nunca é demais lembrar aos míopes que basta clicar sobre qualquer foto do blogue para que se abra uma ampliação, onde dá pra ver melhor os detalhes das molecagens]

LHS QUER COLOCAR TODO MUNDO NO SACO GRANDE
O deputado Afrânio Boppré (PSOL) está pedindo explicações oficiais do governo sobre a mudança da Secretaria do Knaesel para o segundo andar de um shopping de decoração na SC-401. O que provavelmente será respondido ao deputado é que a secretaria não cabe mais nas salas do Ceisa Center que atualmente ocupa e precisa, de qualquer jeito, se mudar. Já que vai mudar, atendeu pedido do governador LHS e encontrou um lugar perto do Centro Administrativo (do outro lado da rodovia). Claro, o contrato foi feito com dispensa de licitação (há várias alíquotas e itens da lei das licitações que permitem tal coisa e cabe ao Boppré e sua turma verificar se tá tudo certinho).

CRIATIVIDADE NULA
Há peças publicitárias que podem perfeitamente ocupar as paredes de museus, porque a criatividade, o gênio humano e a arte de vender alcançam padrões superiores que merecem ser expostos e reverenciados ao longo dos anos. O Brasil é pródigo em bons exemplos de publicidade feita com esmero e cuidado.

O palavrão no out-door, xingando 2005, é claro, padece de falta de criatividade. É apenas uma grosseria. Não que não existam grosserias artísticas ou criativas. Mas essa, do out-door, não é.

Depois, quando foi chamada a retirar a grosseria das ruas, a agência, num outro acesso de criatividade nula, escreveu “censurado”. O que não é original nem parece uma forma muito eficaz de capitalizar a polêmica sobre a péssima (além de grosseira) peça anterior.

Gritar palavrões na rua, há algumas décadas, talvez mais de meio século, podia ser uma atitude de vanguarda. Hoje, só demonstra falta de talento.

PAPAI GODINHO

O deputado Godinho é sem dúvida um sujeito engraçado: fala mal da descentralização e do secretário regional da sua base eleitoral, mas faz questão de adular o governador, de quem se diz seguidor incondicional.

E agora ele vai levar Papai Noel de helicóptero para entregar presentes para crianças pobres de 19 cidades da serra. Não explica quem está pagando a brincadeira (a hora de aluguel ou de vôo de helicóptero é bem cara) e não tem o menor pudor de anunciar aos quatro ventos essa ação claramente eleitoreira.

E já é o quinto ano que isso é feito, sempre com farta distribuição de “cestinhas de Natal com balas, pirulitos, pipoca, salgadinho e pequenos brinquedos”, como ele mesmo explica. E ainda reclama que o secretário regional “faz política”.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

QUINTA

GOVERNO SE DIVIDE PRA OCUPAR MELHOR O ESPAÇO
É bom a oposição arregaçar as mangas e ir à luta, porque o governo tá a mil: ontem, olhei meio distraído para o site de notícias da Secretaria de Comunicação e levei um susto. Achei que tinhamos dois governadores. E vai ver que temos. Porque além do LHS visitar trezentos lugares por dia, o vice executa tarefas políticas e administrativas que literalmente duplicam o poder de fogo oficial. Deve ser pra mostrar que eles não tão brincando e que a campanha começou faz tempo.

Fotos, no sentido horário, a partir do alto à esquerda: A.C. Mafalda/SECOM; Sabryna Santos/GVG; A.C. Mafalda e Ester Barp/SDR22

CASA DE FESTAS
Empresário amigo meu pergunta como é que faz para utilizar a Casa d’Agronômica (a residência oficial do governador) para apresentar algum produto, fazer lançamentos ou alguma festa mais chique?

Ele ficou curioso depois que acompanhou a festança de apresentação dos vinhos e da vinícola dos Freitas (da família do falecido Dilor Freitas, de Criciúma). Acha que assim como os Freitas conseguiram, outros empresários também têm direito.

Acho até que ele deve ser meio ingênuo, porque aparentemente está mesmo interessado em usar aquele belo imóvel e o prestígio de seus ocupantes para promover algum de seus produtos ou quem sabe toda a sua empresa.

Caro amigo: embora a casa seja mantida pelo nosso dinheiro, cabe ao ocupante da hora decidir como a utiliza, dentro da lei. O fato de LHS ser festeiro e gostar de receber e promover seus amigos, não significa que esteja transformando o antigo Palácio Residencial numa espécie de centro de eventos.

Por via das dúvidas dei a ele o telefone do LHS, para que eles se entendam.

BORNHAUSEN x LULA
No discurso em que dissecou os três anos do governo Lula, o presidente do PFL, Senador Jorge Bornhausen, tratou de se reafirmar como opositor-mor.
E produziu frases fortes e sonoras: “Nunca um governo errou tanto, falseou tanto, fracassou tanto, sofismou tanto, corrompeu tanto e gastou tanto em publicidade enganosa”.

Em clima de campanha eleitoral, Bornhausen disse que “está chegando ao fim um tempo de mediocridade e de arrogância”.

Enquanto ouvia fiquei imaginando os petistas, os milhões de militantes petistas que tornaram possível a eleição de Lula, tendo que levar puxões de orelha do Jorge Bornhausen. Acho que nenhum deles, nem nos seus piores pesadelos, tinha sequer imaginado uma cena como essa.

OUT-DOOR DE CABEÇA
Desculpem o trocadilho infame do título desta nota, mas não resisti. Os 398 out-doors que a Senadora Ideli plantou pelo estado inteiro, com a foto dela, ainda estão dando dor de cabeça e pelo jeito continuarão dando.

Era o tipo da coisa que, se ela tivesse um Assessor do Vai-Dar-Merda, não teria feito. Ao ver o desenho do out-door, com a fotona dela e “duplicação da BR 101” ao lado, o assessor certamente diria: “vai dar merda”. E o projeto seria engavetado, poupando incômodos e despesas para a Senadora.

A LUTA CONTINUA
Mas agora é tarde: o procurador Celso Três está pendurado no calcanhar da Senadora e quer porque quer que ela explique o seguinte: os 398 out-doors custaram, segundo ela, R$ 161,7 mil. E a Senadora ganha, por ano R$ 220 mil.

Além desse mistério, o procurador acha que o material viola a Constituição por ser “propaganda pessoal de obra pública”.

Embora o presidente da CPI dos Correios não tenha dado bola para arepresentação que lhe foi enviada sobre isso, a investigação continua, no âmbito do Ministério Público Federal.

O procurador afirma que não age por razões pessoais e enumera várias ações que ele propôs a partir de representações da Senadora Ideli.

Cá entre nós e que não nos ouçam nem o procurador nem a Senadora: vocês também não achavam que ia dar merda?

CIDADE GRANDE
Florianópolis está cada vez mais parecida com a cidade grande que alguns de seus habitantes parece que gostam que ela seja.

O noticiário policial (que é sempre melhor de ler aqui no Diarinho) está ficando muito chique: assalto a hotel de luxo, fregueses de restaurante metidão rendidos no meio do tiroteio, loja-âncora de shopping roubada, uma beleza.

Fora essa coisinhas tipo seqüestro relâmpago e roubo de carro, que toda cidade média tem e que não dão à capital o status que ela começa a ganhar: mais uma daquelas capitais violentas e sem graça, iguais às outras.

ABRE O OLHO
A prisão de uma quadrilha de estelionatários, ontem, que tinha como um de seus principais integrantes um comissário da Polícia Civil, mostra a que ponto as coisas chegaram. Os dados dos cidadãos não estão seguros nem nos arquivos da Polícia. Era de lá que a quadrilha tirava as informações para falsificar carteiras de identidade e abrir contas em bancos.

Já que somos cidade grande nesse sentido, também temos que agir como moradores de cidades grandes. Abrir o olho e ficar espertos. Não dá pra abrir a porta, não dá pra dar informações, não dá pra ser gentil e cordial.

Ontem passou na rua aqui de casa um sujeito, com crachá da Brasil Telecom, querendo ver a conta de telefone, “pra ver se está gastando muito e sugerir como reduzir a conta”. Ora, tá achando que sou tolo? Só pode ser golpe. Mandei andar e registrei queixa. Comigo eles não se criam.

LHS BEM PERTINHO DE VOCÊ
Na segunda feira publiquei uma foto-molegagem em que o governador LHS pedia pra um prefeito chegar um pouco pra lá. Ontem fiquei sabendo que me enganei (ou me enganaram): o cara agarradinho na manga do LHS não era nenhum prefeito. Era o Secretário Regional de Joaçaba, Jorge Dresch (PSDB). Pedindo desculpas aos prefeitos, corrijo o texto (ao lado). E hoje me aparece o LHS agarrado no prefeito Milton Hobus, de Rio do Sul (abaixo), governando bem de pertinho.